segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Serenar


Encontrei paz de espírito
Onde menos esperava,
Num misto de frio hirto
E um fogo de lava,
Plantado em terrenos baldios
Meio homem, meio animal
Enfermidades e despojos sombrios
Ermo, apenas occipital,
Longe de tudo, num desterro
Necessário à minha lucidez
Em redor... Desprovido de ferro
Alucinado por "mera" pequenez,
Sou agora ferro distendido
Aramado por sebes verdejantes
Sob um raio de sol destemido
Acompanhado de insetos gracejantes,
Rio contiguamente aos mesmos
Real, verdadeiro, descontrolado
Encontrado nas bases que perdemos
No disforme sentido deturpado
É natural em minha natureza
Tão dorido como prometeu
Alienado com tão afável beleza
Inato, onde a natureza sou eu!

Sérgio Rodrigues

sábado, 10 de dezembro de 2011

Sem medo!

Cuidadosamente descuidado
Evoco forças devastadoras
Teu corpo pronto a ser profanado
Em meu, aleatórias, sedutoras
Mãos devaneando, alicio teu olhar
Mordendo nervosamente o lábio
De soslaio aprecio teu respirar...
Ímpeto instantâneo tão louco como sábio
Flamejante, vou descendo o nível.
E teu templo tão inexorável
Ao meu cerco total exequível
Abala do óbvio ao improvável
Soro sóbrio de meu lado perdido
Negro como a noite em terreno baldio
Onde sou o carrasco apático, fodido
Pelo tempo que aqui não passa!...Sorrio...
Enquanto esventro entidades de merda
Gastas pela erosão do meu machado
De guerra, só chora a perda
Do caralho que me foda, meu próprio fado
E agora gracejo na cara do perigo
Sem receio nem pudor do meu lado sombrio,
Quem me rege? Um demónio tão meu amigo
Que fornico em uníssono c'as gotas d'um rio!

Sérgio Rodrigues

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011


Poderia falar de mil e uma coisas, questões sobre o fatídico sentido da vida, casos raros e efémeros entre raças, problemas mundiais... Contudo existe uma temática que se sobrepõe a todas as restantes, o "facebook"!
Sim, porque acho deveras mais importante referir uma simples e quiçá pobre entidade a queixar-se da sua triste vida, com tendências suicidas devido a infortúnios provocados por ténues e fúteis relações de amizade, do que qualquer criança subnutrida num aleatório país subdesenvolvido preocupada com a sua própria subsistência, pois tem muito menos razões para ser auto-destrutiva.
Longe de mim o pensamento de julgar o "facebook" como algo malévolo, eu mesmo possuo uma conta lá e é do meu agrado partilhar os meus pensamentos inócuos e simples num "mural" virtualizado pelas novas tecnologias.
Apenas não compreendo que estas pobres almas deambulantes confundam as coisas. Acredito na sua incessante necessidade de comunicação e de relacionamentos virtuais, porém se mesmo com isso sentem em si uma crescente tristeza interior assumam:
-"Eu, _____________, estou num relacionamento com o facebook!"
Porque não é o facto de ter amizades espalhadas pelo "mundo" e sim o facto de ser completamente viciado que impulsiona essa vontade intrínseca. Ele já se tournou tao inato nas nossas cinzentas vidas que existem por aí seres cingindo toda a sua vida em função disso mesmo.
Em suma, porque não perder horas de sol e um tempo aprazível na frente de um computador a dissecar vidas sociais?
Apoio totalmente, é assim que se formam fantásticos elos de amor e amizade. "GOSTO!"

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Espelho

A lei "contra-natura"
Obedece à lei da natureza
Um ponto de rutura,
Tão forte que dá moleza
Torna-me príncipe sóbrio
Do povo que se governa,
Aqueles a quem sorrio
Numa pequena taberna
Onde nada consumo
Sem ser meu próprio ar
Meio misturado com fumo
Que não filtro ao respirar,
Desejo simples, o meu,
Cujo não queria desejar
Nunca nada me corroeu
Porque me abstraia de pensar,
Sinto-me diferente,
Mais aberto ao mundo duro
Sou tão inexistente
Que neste presente futuro
Ñasci só e pouco importado
E pouco ou nunca me importei
Do monstro em mim criado...
Por isso e que só, nasci e morrerei!

Sérgio Rodrigues

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Ajuda irrelevante

Corro em socorro de ninguém,
Ajudando o sonhar importunado
Percorro o morro do além
Que jaz hirto, fulminado,
Durmo em prados ancestrais
Fulgor rotineiro substancial
Das eras que de tão intemporais
Roçam o limiar do fatal
Sopro de um demónio alado, negro
Como a luz nocturna inconfundível,
Incorporo o mal até ao logro
Dos entes profanados, incorrigível
É minha tentação inata,
Vazia, desprovida do nada
Prazer de quem mata
O ancião com barbas de fada...
E rio bem alto, num tom inaudível
Regozijo de gozo em não ter sentido
Encaro a face do impossível,
Uma bomba destrutiva num mundo já destruido!
Sentado numa varanda aleatória,
Um cigarro, apreciando o mar
Sem medo, sem dor, sem memória
Ouço o holocausto apocalíptico chegar!...

Sérgio Rodrigues

Tortura indolor

Repartido em sonhos esventrados,
Carnificina, torturas sombrias
Corpos aleatoreamente amontoados
Quentes, providos de mentes frias
Tempo passado, noites e dias
Sonhos inócuos, mundos trocidados
Regorgito todas as piores melhorias
Invoco anjos negros alados...
Leva-me deste sonho real
Sucumbe, renasce em mim
Criamos um só espaço intemporal
Desprovido de início e fim,
Abraças-me... Sem sentir teu toque
Regozijo-me com tal sensação
Imploro que tu`alma troque,
Tua vã pureza pela depravação
Tempo contado pelas areias
De uma simples ampulheta,
Sorris enquanto "devaneias"
Em minha sombra preta!

Sérgio Rodrigues