quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Espelho

A lei "contra-natura"
Obedece à lei da natureza
Um ponto de rutura,
Tão forte que dá moleza
Torna-me príncipe sóbrio
Do povo que se governa,
Aqueles a quem sorrio
Numa pequena taberna
Onde nada consumo
Sem ser meu próprio ar
Meio misturado com fumo
Que não filtro ao respirar,
Desejo simples, o meu,
Cujo não queria desejar
Nunca nada me corroeu
Porque me abstraia de pensar,
Sinto-me diferente,
Mais aberto ao mundo duro
Sou tão inexistente
Que neste presente futuro
Ñasci só e pouco importado
E pouco ou nunca me importei
Do monstro em mim criado...
Por isso e que só, nasci e morrerei!

Sérgio Rodrigues

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Ajuda irrelevante

Corro em socorro de ninguém,
Ajudando o sonhar importunado
Percorro o morro do além
Que jaz hirto, fulminado,
Durmo em prados ancestrais
Fulgor rotineiro substancial
Das eras que de tão intemporais
Roçam o limiar do fatal
Sopro de um demónio alado, negro
Como a luz nocturna inconfundível,
Incorporo o mal até ao logro
Dos entes profanados, incorrigível
É minha tentação inata,
Vazia, desprovida do nada
Prazer de quem mata
O ancião com barbas de fada...
E rio bem alto, num tom inaudível
Regozijo de gozo em não ter sentido
Encaro a face do impossível,
Uma bomba destrutiva num mundo já destruido!
Sentado numa varanda aleatória,
Um cigarro, apreciando o mar
Sem medo, sem dor, sem memória
Ouço o holocausto apocalíptico chegar!...

Sérgio Rodrigues

Tortura indolor

Repartido em sonhos esventrados,
Carnificina, torturas sombrias
Corpos aleatoreamente amontoados
Quentes, providos de mentes frias
Tempo passado, noites e dias
Sonhos inócuos, mundos trocidados
Regorgito todas as piores melhorias
Invoco anjos negros alados...
Leva-me deste sonho real
Sucumbe, renasce em mim
Criamos um só espaço intemporal
Desprovido de início e fim,
Abraças-me... Sem sentir teu toque
Regozijo-me com tal sensação
Imploro que tu`alma troque,
Tua vã pureza pela depravação
Tempo contado pelas areias
De uma simples ampulheta,
Sorris enquanto "devaneias"
Em minha sombra preta!

Sérgio Rodrigues