terça-feira, 27 de novembro de 2012

Apelo a Cultura

Musa tripartida
Jean
Jaques
Rosseau...
Honorária vida,
Um clã
"Tiques", "taques",
Tombeau
Em honra de si, eluísse
Ou em su' falta
Em honra d'algo qu'abulisse
Toda esta malta...
Apontadores
Do dedo inquisidor
Degoladores
Do medo conhecedor...
Perdoai-me
Olímpico Zeus
Mefítico Hades
Perdoai-me
Vergilius, Prometheus
Por tais cobardes
Livrai-me
Maomé, Jesus e Buda
Anti-Cristo, Satanás
Livrai-me
Da luz que nos gruda
E libertai-me
Como Barrabás!...

Sérgio Rodrigues

domingo, 25 de novembro de 2012

Toques lascivos

Ainda acordo duro e quente
Por aqui, por ali
Possuído, masturbo-me velozmente
A pensar em ti...
Ah, teus seios
Tão perfeitos, tão hirtos
Devaneios
Eram perfeitos jazigos
Porque em ti morria
Em ti acordava
Em ti, sorria
De alegoria
Enquanto ejaculava!
Luxúria e sexo oral
Gemidos contidos
Secreção e suco vaginal
Inundado de fluídos
Se deprecias a perversão
Ou minh' ânsia que não morre
Não temas a exaustão
Do suor que por nós escorre
Nojento,
Que tanto me apraz
Violento
Ainda te fornico por trás...
Seguro teus seios
De novo... Tão perfeitos
Ejaculo de novo enquanto te mordo
E agora é tudo fumo que recordo...
Sorris e perguntas se te amo
Não respondo, respiro forte
Sexo não é amor nem desengano
Mas... Com tanto ímpeto profano
Amar-te-ei até à morte!...

Sérgio Rodrigues

Golpes corpóreos

Tentei sentir a solidão
E caí, dissentido
Sem apoio nem ganha-pão
Num abismo indefinido
Criado
Por lobos humanos
Gerado
Por entes insanos
Temi o súbito
Temi Prometeu
Tremi, concúbito
Tremi... Eu...
Já fui copista
Já fui "Sade"
Alquimista, alfarrabista
"Maçon" e frade
E sempre pequei
Glória no crime
Já sequei...
Arrependi-me
Do bem que fiz
Esbofeteei
Quente e petiz
Torturei, suei, marquei
Cortei-te e sangrei
Ainda sinto teus cortes em mim
Já te bajulei
Agora mordo o lábio sem o "Sim"
Recordo tu' pele dócil... Como linho
Era fácil de cortar e sangrar
Agora... Estropio-me sozinho
É mais rápido o sarar
Cada vez mais
Difícil de quebrar
Jamais...
Jamais chorar...
Lágrimas lavadas
Essas não levavas
Se me soubessem magoar
Como tu magoavas!...

Sérgio Rodrigues

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Meu cárcere (meu quarto)

Perco-me num triste cigarro
Único, queimando lento,
Em húmidas lágrimas me agarro
Auto-flagelo sangrento
Controlo-me emudecido,
Soltos
São os gritos da libido,
Pontos
São vários onde o mesmo apago
Em meu corpo agora marcado
Sinto-me simples orago
Não suficientemente mutilado
Falta-me o gozo de te magoar
Penetro teu olhar, com malícia
Esfaqueio teu abdómen até drenar
Toda tu' matéria excrementícia,
Suportas
Minha demoníaca face ensanguentada
Mortas
Tuas mãos trémulas... Apenas nada
Só medo, dor, ira, euforia... Ira!
De meu riso ensurdecedor,
Cinzas viras nesta grotesca pira
Confeccionada com amor
Terror, horror
Dor, cinzas sem cor,
Odor
Putrefacto, fétido e eu selado... Bafio
Amargo... E eu só neste quarto vazio...
Sombrio... Frio...

Sérgio Rodrigues

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Desafogos

Fitei teu mundo por um segundo
Senti teus sedosos lençóis suaves
Muito ao de leve, exânime, moribundo
Desejei, ardente... Quebrar entraves

"Angelus"! Sorriso rude...
Bebo à tua saúde
Teu licor envenenado
Cálice amargurado
Contacto visual
Mantenho
Teu olhar
O qual
Desdenho
E sonho
Em tal
Me afogar...
E emergir,
Admiração
Por não cair...
Objecção!
Esse veneno
Sinto-o no peito
Ameno,
Não faz efeito...

Nada temas, porque tal momento antevi
Munido de arma, munição e bagagem
Logo vi teus intentos quando te sorri...
Duas balas, ambas para mim,
Sim...
Uma de suicídio, outra se me faltar coragem!

Sérgio Daniel Alves Rodrigues

domingo, 18 de novembro de 2012

Ciclo

Penso e repenso
Na culpa que me confunde
Acusei inocentes, imenso...
Agora a culpa que me inunde
Agora torpe
Imundice para onde me afastei
Agora a morte...
Absorvo o Inferno d'onde não retornarei
Tísico fogo ardente a dançar
Sopro, sopro, sopro
Arde mais forte, morro
De ânsia, não pares de queimar
Consome-me a alma
Devora-me o espectro, demónio!
Dor que me acalma
Tremores assassinos, escárnio
Milícias pacíficas
Pérfido culminar
Torturas rítmicas
Obras míticas
Devasso pensar
Admiro teus lentos movimentos
Escondido nas trevas deste poço
Paciente, olhos penetrantes, atentos
Até ao exacto momento de te caçar os lamentos
Pelo pescoço!...

S. Rodrigues

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

"Orate"


Não sei porque aprecio o desprezivel
Ou porque me atrai o pecaminoso
Ou porque o pestilento, mefítico é-me aduzivel
Nao sei porque sou... iroso
Mas sei que te miro
Dama de negras vestes em trapos
D'alva tez
E quando me viro
Por entre as sebes de ramos fartos
Tambem me vês
E desdenhas o meu infortúnio
A minha tristeza
As lágrimas de que me rio
A minha beleza
Que mais ninguém admira
O meu suave riso rouco
Porque eu sou dissimulado e pilantra
E louco...
Louco, louco, louco, tão louco...
Devia ser internado num hospital psiquiátrico
Porem nao me querem alimentar mais
Acusam-me de ser demasiado sádico
Ou não entendem meus sinais
Ou não há cura, sou louco demais...
Arrepender-se-ão, talvez não já, mas agora
Vou formar um grupo de débeis mentais
Porque os piores estão cá fora!...

Sérgio Rodrigues

domingo, 11 de novembro de 2012

(Des) Embarcado

Clamo musas invocadas
Às mais humildes imploro...
Vós, de túnicas torpes e rasgadas
Rogo o mínimo num desaforo
Contido, em vossas sardas
Onde cantam lágrimas em coro
Onde minhas intenções refutadas
Maculam vossas faces rosadas
Deviam tais descer imaculadas
Em meu logro por vosso choro
Viveria de vossas palavras
Num destilado raro soro...

Sofro!
Neste ínfimo porto sem cais
Só com um solitário barco atracado
Tão só... Sensível a toques termais
Esperando apenas a ser navegado
Afectado por vossas libertações lacrimais,
Atolado, alagado, afundado...
Nostálgico nas águas que já não profanais
Saudade da lais
Sonhando com os que agora remais
Pois não há sustentáculos num "velejado"
Nem tampouco acessos pedonais
Em restos d' um barco abandonado!...

Sérgio Daniel Rodrigues (em prol de passarinhos esvoaçantes)

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

"A DUO"

Já idolatrei tua essência
Outrora,
Processo de decadência
Agora,
Almejo tua decapitação
Onze segundos... Observar
Antes de te violar... Olhar
Teu corpo em decomposição
Oh, musa,
Beijar vagarosamente...
Oh, tusa
Curvas deificadas, sente
O ardor gélido permanente
Sim, escarnificação e cortes
Desenhados, várias mortes
Te proporcionei numa só,
Ergo-me
Num salto e sinto um nó,
Vergo-me
Para regurgitar,
Odor nauseabundo
Mundo gira, não pára de girar...
Raio de mundo!
Seguro tua cabeça decepada
Com ambas as mãos, geladas
- Odeio-te, não és nada!
(Minto com todas as palavras)
Ajoelho-me, iço
Um grito "ecoante"
E um riso
Ainda mais trovejante
(Não sabia que chovia...)
- E agora musa? É oco teu olhar,
Chora o rosto que antes ria
Mas é por pouco tempo,
Uma foice não o tarda também em degolar
Sem voz, sem dor, sem lamento,
Contíguos cadáveres sem respirar
Ensanguentados, no pavimento!...

Sérgio



Concúbito

Eu tenho um desejo que é pecado
Copular com um virginal demónio
Fornicá-lo noite adentro, ritmo descontrolado
Morrer literal num orgasmo antagónico
Ofegante até ao nascer do dia
E vê-lo desfazer-se em cinzas
Quando a luz solar lhe tocar nas linhas
Voluptuosas delineadas do corpo perfeito
E falecer imolado no fogo do nosso leito
Rasgar-lhe a pele endurecida
Até só ver tecido muscular
Ser de benevolência carecida
Não pares de me esquartejar
Ah, meu Deus... Tanto tesão
Espanca-me, esmaga-me em pedaços
Por O invocar em vão
Tens de me prender os braços
Senão parto-te a espinha contra a parede
E não acalmo nem acalmarei
Enquanto tiver fôlego e sede
Sede do sangue recíproco que se mistura
Aquele cujo eu implorei
E agora me afaga... Degluto-o como um rei
Levado de semblante repleto de loucura
Gritamos, rosnamos com um clímax inesperado
Sofro de demasiadas sensações neste apogeu
Caímos sem vida, lado a lado
Agarras meu coração na tua mão, e eu no teu!

Sérgio Rodrigues

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Mefítico

Vou partir numa demanda
Em busca da minha destruição
Devasso aroma a lavanda
Banhar-me na lava do teu vulcão
Doce ardor, enxofre flamejante
O calor na minha pele, regozijante
Movimento pélvico incessante
Prazer e dor, ah... Mulher de Dante

Vou enfrentar teus pecados mortais
Alegrar-te, magoar-te, até me imortalizar
Nas tuas oásicas vulcânicas águas termais
Macular-te, bajular-te, até me controlar
Não imaginas o louco que sou
Imaginas, não sabes o que sobrou
Da demência casta que agora voou
Num ténue sopro que a fuzilou...

E a enterrou em campas nobres
De lápides rudimentares e pesadas
Circundada d'almas podres e pobres
Sedentas de tuas carnes trespassadas
Pelos dentes destes entes brutos, obscuros
Decrépitos, mas leais, de olhos vagos e escuros
Temidos pelos mortais, mesmo pelos mais duros
Vê-los-as cientes perante ti... Pesadelos puros!...

Sérgio Rodrigues


terça-feira, 6 de novembro de 2012

...

Caminho sozinho na rua
Merda na minha cabeça... Descontrolado
De expressão nua, tão crua
Esquizofrenia, loucura... Todos me olham de lado...
Foda-se!
P'ra tudo e todos, deambulares tortos...
Foda-se
P'ra mim, de frente estão tão mortos...
Revolto-me com o planeta
Por causa de alguns meros filhos da puta
Ansiosos por um caralho que vos meta
Siso nessa estúpida cabeça tão astuta
Baixem os cornos neste Inverno
Como baixo os meus até esconder a cara,
Ardam nos fornos deste inferno
Que vos queima a réstia d'alma que nunca sara!
Engano meu, nunca esmaguei crânios vossos
Mas profiro-o a sorrir
Os vossos viram p'ra dentro... E gulosos
Perfuram até nada existir
A não ser simplesmente ar
Asnos merdosos, nem lugar nas trevas possuís
Certo é o meu desde o meu primeiro luar
Imolar-vos-ei lá como aqui me fodeis e me fodíeis
Porque lá... Meus inaudíveis risos vão ecoar!...

Sérgio Rodrigues