quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Sema

Por pressão contrária
Não cessarei de ser recíproco
A morte é temerária
E a vida um contínuo equívoco
Tenho-me como pior inimigo
Temo o ócio imo!...
Perdido no perigo que persigo
Não temerei o próximo
Quanto interessa ser exímio
Aquando condenado a extermínio?
Dominador do declínio
Reclinado sem sustentáculo exacto
Sinto-me um símio
Semiótica não é de facto
Um fardo, é um retrato
Pintado da minha mente vulcânica
Em erupção
O estalido de uma peça de cerâmica
Imitando o estilhaçar
Dos ossos da mão
Do meu instintivo desejar
Animalesco seria esmiuçar
Essa prazerosa dor
E expressar essa revolta interior
Amava poder patentear
Inócuas rimas em teu corpo sem cor
Da cor do meu sangrar!...

AEDO

domingo, 22 de setembro de 2013

Desconsertar Y por meio de X

Quantas noites durou um dia?
Mia musa de vil víola gerada
Fantasia que concebia...
Mia flor mais inusitada!

Quis eu nalgum alvo dia
Mias vísceras como tuas cordas...
Em penas de ré pia
O violino que já não tocas
O violento mais tangido
É violeta volvida
Violetista mais sofrido
Vinculada via... A vida...
Findo, fedo!...
Oculto-me nas urzes literárias
Recepto o medo
Mias mãos precárias... Várias
Voltas o globo dá em anos
Em que me tundas e me tundo
Com imos danos...
Em que pugno por um mundo!...

AEDO (em prol de X)

domingo, 25 de agosto de 2013

Sem acepção

Enrubesce em prece
Rupestre peste
Prezado agreste teste que tece
O tecido deste
Mundo de outrem
Outro trem intransponível
Canto, conto, contém
Quantos encantos! Nível
Inacessível, trespassar-te
Em volátil dano
Violar-te, domar-te, drenar-te
Espetar espartano
Esperto espectro
Em essência física, fecundar
Atroz acre retro
Modo de nos aramar
No mar, há mar!...
E ir sem voltar
Mais iró que ar
Papiro a par e par
Pára de pairar
E pira, inspira
Exclama, oneroso
É o Senhor dos Mares em ira!
Neptuno idoso
Ide em idem, dirá a sátira da lira...

AEDO

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Ménage à trois

Tive que vislumbrar
O "El Dorado" em galegas terras
Após conquistar
Inexoráveis montes e serras
As servas que me reservem
Um lugar contíguo a elas
Que se sirvam e abusem
Das peculiaridades belas!
Que se prezem
Que cessem num mar de pérolas!

Conhecer tua voz
Foi como ter um "déjà vu"
Vindo de três corpos sós
Acompanhantes a nu
À "companha" dos homens
Que vos pescaram
Ventres e vaivéns
Se deleitaram
Se deliciaram
S' ornamentaram em redor do geta,
De si mesmos, duas musas, um poeta!
Infracção a três...
Como se pode sequer pecar errado?
Quando o pecado acusado originado
É da conta que Deus fez?

Nada é de minhas contas
Consta que daí lavo minhas mãos
No aprazer liquefeito de duas vulvas
Volvendo costas aos castos sãos
Desapreciadores dos desprazeres
Da vida, desprezem-me seres
Abjectos, quanto mais calúnias
Mais me espraio em plácidas
Carnais cândidas praias únicas,
Banhos dignos de Deusas Áticas!...

AEDO

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Fiat justitia et ruat caelum

Por mais intento de diluir
Líquido na taça
As vozes sem graça
Tendem a urgir
Mais a cabeça pesa
Menos esforço
Mais lágrima me lesa
Menos orco no dorso, torso
Torço-me de tanto rir
Troço de mim
Forço-me a não cair
Traço um fim!

A mim! O que é de César
O cessar de um Czar
E furtar das mãos do persa
O violino que se sopesa
A quem tem mãos para o tocar
Devedor sem ónus
Tocador sem cordas
Benesse de bónus
Turba de "codornas"
A fim de me caçar
E eu sem querer afins...
Enfim, só te querer contemplar
Entre os capins
E os canaviais além-mar

Mar... Maravilhosos olhos
Entre escombros e desafogos
Encolho os ombros
Neles me deixo afogar...
Encarnados, carnudos lábios
Só me sabem afrontar
Ultrajar e escarnecer
Aprecio tal subjugar
Até a face enrubescer
E só returco no ar
De não poder zoar de teu poder!...

AEDO

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Escárnio escarlate

Mordi o desespero
Desespero esperando
Por teu terno vero
Verbo ermo içando
O vil mastro
Assaltado, solto
Tanto lastro
Que me revolto
De nada enxergar
Em tudo ver
Deificando cada esgar
D'um mudo ser
D'um mundo a arder
Crestado estado
D'em dor sofrer
De fado em fado, enfado
Enfadonho, que sonho!
Em ti me ponho!
Meretriz ludibriadora
De vulva apertada
Puta sedutora
Negra, alva d'alma fiada
Fia-te na Virgem!
Organiza uma orgia
Onde órgãos impingem
Até olear a mais puta pia
No regozijo do concúbito
Frenesim, felatio, foder!
Membro rijo e de súbito
Orgástico fumo, cinzas a ferver!...


(Como prometido de nada escrever,
Apenas prazer em te escarnecer...)

AEDO

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Deleite sem leito

Ermo sem estro nem nume
Carente de deidades
Caronte, fonte de meu negrume
Denota-me as díades
Diabos me levem
Demónios me tragam
Se temem devem
O fundo que me dragam
Neste rio alcoólatra
Onde perecerei afogado
Até puxar a culatra
Dos fados... Dados definhados

Pudesse ser eu rangífero
 Tangível á mão humana
Araneífero, sanguífero
Da faina e flora, fado sacana!...

AEDO (em prol de um mundo que apreciaria ver ser erradicado)

sábado, 29 de junho de 2013

D.ERRA.DE.IRO!

Era... Acaba bem,
Se acaba o mal
Pois eu só... Sendo sem cem
Em osmar a qual
Requeiro ser abalroado
Oh, que me estripassem
Que pedaço a despedaçado
Um tecido visceral visassem´
Em minar meu corpo
Ser capado, sem ser morto
Oh sim, torturado
Fretado ao limiar
Roma! Não vai amar...
Aia do limbo do desregrado...
São sou em desgraça
Mais nada havia para desgraçar
Indagar o engraçado... Só traça
Na tara de me desentrelaçar
Há sonhos que não existem...
A êxtases que nada são
Meus logros que cindem...
Untar um não, na multidão
Se me mutila e come...
Aí prefiro perder meu pão
Que não tenho muita fome!...
Uivarei por ti à Lua
Enquanto for animal!
Mantenho minha nua
Embriaguez de mal
Mal me sobram prós
Avisem o Mundo
Tanta mundificação!
Além-mundo-cão
Sangue imundo
Terás grão-em-pó
Em pó-de-grão-só!...

Sérgio Rodrigues (talvez o último, talvez uma pausa, mas por enquanto não há alma poética para mais, nem mesmo alma... Talvez um despedir cordial do falso poeta com um talvez adeus...)




quinta-feira, 27 de junho de 2013

Música para os meus olhos

Até fumo me fumar
Fomentarei a fome
Fumo a fumegar
Fama infame
Que me tome...

Teu violino
Quis como meu
Outrora,
Fino...
Agora...
Eu...
Jamais suas
Curvas polidas
Visarei?
Cândidas
Mãos, nada sei...

Talvez te relembres
Das estrofes sem direcção
Já suplantadas, rés
Aquém de tua descrição
Relembro teu reverberado
Reflexo na caixa-de-ressonância
Ressenti o tocado
No tanger de minha ignorância
Refrescar de mãos frias
Concebi manias
Por demais congeminar
Tão congénere a essa génese
E tão genérico na benesse
Que me fez enfadar...

Olhos cansados
Já não enxergam mui
Estulto fui
Ocorrentes passados!
Mas algo ouço 'inda
Que seja senda
Para uma fenda
Que te cinda
Mas... Música apenas
De violino obsoleto
Proxeneta dos temas
Temerário de folheto!...

Sérgio Rodrigues

sábado, 22 de junho de 2013

Ab imo pectore

Lamento a lástima
De um lastrado
Lasso de estima
Castrado
Revogo o logro
De osmar
O "ogro"
E esmiuçar?
É miudagem
"Heril dos hircos"
Sou tiragem
Posto à margem
Pouco marginalizado
Dos que argúem
Creio criminalizado
Infundado
Na alcova
Afundado
Até que chova
Lume...
Nele me afogue
Cume
Àquele açougue!...

Sérgio Rodrigues

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Abanão

Abandonei-me... O globo roda
E eu ermo observo
Apenas penso, vivo cada
Linha que escrevo
Servo
Do "Trevo"
Do infortúnio... Bulem
Comigo e só balem
Como ovelhas que são
Tanta inata formatação
Parte-me o coração
Quebra-me a raiz
Chamem-me feliz
Triste chamariz
Sem chama interna
Internem-me na taberna
Até entornar a terna
Essência existencial
Ou só a torrencial
Torrente compungida...
Paixão? É um vil mal
Mal? É a vida!...

Sérgio Rodrigues

domingo, 2 de junho de 2013

REVÉS REPRIMIDO

Odeio sentir a calamidade
Da calma colmatada
Execro minha cidade
Totalidade tramada
Tu, musa, minha pútega
Alucina contigo mesma
Masturba-te e na bátega
Baba-te como uma lesma
Afoga-te em teus líquidos
E liquida o que não és
Até se tornarem ressequidos
Meus queridos, ao invés
Invejem, vejam
A merda que é a Terra
E mordam-se lamidados
Lambam a perra serra
Que vos levará aos elísios prados
Gemam calados
Nem deveriam ter sido germinados...

Sérgio

terça-feira, 28 de maio de 2013

ISTO É O QUE SOU (quem sou eu?)

Em conversa com meu
Imo intrínseco demónio interno
Incidi no pavor seu
E seu inferno me foi terno
Meu cônjuge de conjuntura
Com sorte consorte
Perguntou na mesma altura
-  "Não temes a morte?"
Indagou calado meu responder
Defronte de meu ar absorto
- "Porque a teria de temer
Se nem lugar tenho onde cair morto?"

Sou o que o mundo me gerou
Sou o que dele faço
Luz cósmica, éter, que pugnou
Soçobrado no espaço
Sou sobras de restos
Sobejo de nímio
Sou beijo de funestos
Dejectos de símio
E nem sou obra
Só sobra ser comido
Por uma cobra
Uma naja! Nojo! Ser expelido
Até ao Caronte, Obnubilação!
- "Óbolo ou alma por viajante"
- "Nem na algibeira nem na mão"
Sem índole de réu, cem anos errante!...

Sérgio Rodrigues

segunda-feira, 27 de maio de 2013

O MEU CAMINHO (sonhado)

Pouca poeira se eleva
A passo e passo
Enquanto passeio, neva
Sémen semeado pelo devasso
Devoto Diabo endiabrado
Corpos amontoados constroem
Muros e tecto apertado
Onde me roço de lado
E quase me consomem
O consolo desmesurado
Da desordem
Horda sem ordem, ardem
Anónimos, homens sem "nomen"...
Nunca antes mencionados
Intrépido prossigo
Braços partidos, arrancados,
Tomados, rostos desfigurados
Uma parcela de todos tomo comigo
Tecelão, tecido e atirado... Diabos!
Temerário tenebroso temível
Tomem-me por tanso
Temam-me por tirano terrível
Ou tonel estrepitoso
Ou tolo,
Porque me estiolo!...

Sérgio Rodrigues

domingo, 5 de maio de 2013

Quo vadis?

Surripiei-te
Sem astúcia ou estratagema
Alegrei-te
Num pequeno parque simples com' um "sema"

Levei-te
Ao clássico labirinto do Minotauro
Sorri-te
Era básico, nada inextricável! O "Tauro"
De lá, já devia ter fugido
Por isso não testemunhou
O sucedido!
Lá se instalou
A paz desprovida
De malícia
Alguma perdida
Blandícia
Com gosto oferecida
Com gosto retribuída

Levianos lábios, sabem ao "recém-comido"
Gelado... Frio... Li... Libi... Líbido!

Toar d' um estalido
Que me afugenta o cérebro
Clique... Um gemido
Erecção do membro
Clique... Tudo negro

Desperta-me o olhar
É agora noite
Penetro-te sob o luar
Sou teu açoite
Sou teu flagelo
Quereis meu corpo?
Podereis tê-lo!
Pernoitarás no "Orco"
Precisarás de gelo
Até o Minotauro retornado
Fugirá assustado
E tu' pele branca
Marcada pelo pecado
Sou airado
Sou quem te espanca
Quanto mais m' ultrajas
Maior minha violência
Controlas mil uma "najas"
Eu controlo a malevolência
Injecta-me o veneno
De todas em simultâneo
Estripa-me o duodeno
Fragmenta-me o crânio
Que morra pleno
Mitigando a respiração
Mas que te tenha como manto
Que morra de ejaculação
Em ti, caído, finado, em pouco pranto!...

Sérgio Rodrigues

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Musa Reclusa

O local longínquo
Onde tudo se passou
Recinto contíguo
Contigo começou

As correntes
Aprisionam-te os membros
Persistes
Insistes
Até ao momento dos movimentos...
Lentos...
Recorto-te os mesmos
E mesmo separados
Soltos, enxertados
Sangram drenados
Ainda os sentes, por segundos
Esmorecem golpeados
Fracos, exânimes, moribundos
Ensanguentados!

Sorvo a sobra dos líquidos
Sanguíneos, cálidos
À força servidos
Fervidos, esquálidos
Agora pálidos
Agora retomo o baixo-ventre
Estropio-o c' os lábios
"Entressachando" entre
Os vários
Diversificados cortes
Outrora decorridos
Por outros "orates"
Endoidecidos...

Não tanto quanto eu
Não penso por direito
Mas por direito tomo o qu' é meu
Não sou louco por defeito
Sou algo mais:
Maluco, tolo, demente, alienado
Com problemas mentais
Em ser perturbado, tresloucado, desnorteado
Em paradoxais
Pólos opostos o maior desmesurado
Incuto-o ao lamber
O jorrante sangue de teu corpo trucidado
O que te faz viver
São vínculos de sal grosso em papel amarrotado!
Por enquanto...
Vais respirando...

Teu rosto é dissimulado
Por manchas escarlates
Criand' um estranho camuflado
Apenas teus olhos rutilantes
S' encontram intactos
Estáticos, estacados
Estancados
São quase como dois poços
De fogos
Regozijantes
Apaixonantes
Por ventura demasiadas vezes
Trapaceados...
Acredita, não os quero trapacear
Crê, muito menos ludibriar
Confia, só os quero trespassar
Decepar-te e comigo os arrecadar

Visá~los sempre que for
Do meu agrado
Contê-los ao meu dispor
No porto grado!...

Sérgio Rodrigues

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Desafogo ao espelho

Quem violou meu ser
Dá-me ganas de matar
E querer morrer
Faz-me querer violar
Meu corpo ao espelho
Cravar poemas num qualquer órgão
Interno, e decrépito, velho
Poder ver.me corroer com' um acordeão
Comum acordo! Num monólogo
Abrir-me por metade
Prezar a farsa do diálogo
E logo, sentir saudade
Sei o que sou
Sou aquilo que controlas, quando descontrolada
Sou o que te dou
Sou o que sou, ser sem ti, não sou nada
E contigo nada sou

Foda-se, ameaço suicidar-me
Longe de ti, meus olhos debilitados
Nem coragem têm de matar-me
Por tanto amar, desejar morrer em teus braços
A minha vida é um recuo
A maior dádiva de merda
A mais bela dádiva que possuo
Meu maior ganho, minha maior perda!
Até o meu demónio interior
Se ri das minhas decisões
Que me chupe a piça até mudar de cor
Que me acaricie os colhões
Sou um filho da puta
Único e o menos querido
Rebento da labuta
D´um demónio ungido
E de um anjo caído
Apendicular à escória
Libertino desregrado
Não me lembra a memória
A quem me cedesse de tão bom grado!...

Sérgio Rodrigues

domingo, 7 de abril de 2013

Não sei apenas ser...

Foram tantas
Noites passadas
Em branco, claras
Quantas
Me vieste aconchegar
Temo a morte negra
Temo que lhe falte força p' ra me matar
Toma, pega pega, a regra
Do desregrado
Falso poeta desumano
Amado
Pelo acaso do desengano

Talvez em ti pense
Quando chorar, uivar à lua
Talvez repense
Em poder profanar-te, nua
Ou imagine tu' cara
A alguém que assim me apresente
Talvez o sinta em tara
Talvez grite por ti, quando doente
Talvez risque as letras
Escritas, ou nunca mais escreva
Talvez cobre pedras
D' algo que ninguém me deva
Talvez sonhe em sonhar
Sem conseguir
E a dormir
Sonhe amar
Ser um existir

Talvez tente ser tentado
Pelos demónios da imaginação
Talvez tente vingar alado
Talvez não
Tente sequer tentar
Sequestrar a menina de face bordada
Que me fez parar de pensar
Talvez tente furtar seu baloiço e nada
Me fará parar p´ra pensar
Talvez me suicide
Talvez morra a tentar
Talvez me ludibrie
A não mais te contemplar
Se lutar pelo vento
E me tornar cinzento
Talvez pela vida não possa lutar

Servo Rodrigues

domingo, 31 de março de 2013

Par de Reis

Eles eram dois
Sem ser um par
Eles foram dois...
Pontos no vasto mar
Sorriam juntos
Num fugaz alor
Traziam defuntos
Em seu antro d' amor
Bonnie não era
Clyde não foi, nem será
Nem uma Era
Esse amor merecerá
Em leito eles não perduram
Não assassinam
Apenas mutilam e torturam
Assinam quando pilham!

Parecem perecer envenenados
Como Romeu e Julieta
Lado a lado, prostrados
À queda certa
Incertos nas decisões
Decidindo bélicas guerras
Interiores íntimas convulsões
Golpeando conquistas térreas
Paradoxais ortodoxos dogmas
Cleópatra!
E marco "Antónimo"
Alcoólatra
Anónimo, seu sinónimo
Alónimo venerado como epónimo
Páris furtivo furtou Helena
Menelau impugnou com guerra declarada
A fim d' uma Tróia crestada
Munido de toga e lena
Helena...
Foi pioneira na paixão
Como Penélope que viveu,
Que a tantos deu caixão
Chegado barbudo Odisseu
Só reconhecido pelo cão
Retornado, testado, não se demoveu

Ela foi como Sherazade
Contando contos a Shariar
Ele foi túmido de vaidade
E inverteram de lugar
Alugaram tantos luares
E por acaso não houve ocaso
Mas o caso teve mil e um esgares
E os trejeitos sempre deram azo...
Por isso "musa", nosso fado
É um desobstruído arbítrio destinado!...

Sérgio Rodrigues

Dedicado a uma ostentosa musa muito valiosa, o vale cor-de-fogo, o lume luminoso que me queima os pensamentos...

quinta-feira, 28 de março de 2013

"Tapada"

Baloiças no baloiço que tange
O dorso que minhas mãos impingem
Correntes tilintam, madeira range
Movidas, demovidas, comovidas
Pelos prantos chuvosos que nos tingem
As faces laceradas, compungidas
Caras marcadas
Cardadas caras
Descartadas...
Encardidas pelo que saiu caro
Neste improvisado estendal
Distendo, estendo, encaro
O libidinoso vestido em teu corpo sensual
Original quadro casual...
Quem desdenhar tal imagem
Será indiano por momentos
Cairá à margem
Alvejado... Jaz junto
Dos outros defuntos
Já pestilentos...
Musa não serás importunada
Esvoaça intemporal no âmago do nada
Balança-te em sorrisos
Enquanto os torpes tropeçam
Em seus próprios jazigos
Que nos invejam e almejam
"Manducar" vivos
Em jeito depreciativo, fugazmente "opino"
Efémero é o incentivo
P' ra quem assassino!
- "Réu incómodo, sentença de morte
Porém, se pela vida implorares
Talvez tenhas menos sorte"
Deploráveis mares
Teus olhos ardentes
Na percepção de seres Deusa destes
Bajuladores permanentemente
Forçados a sê-lo, seguidores
Idólatras de teu oscilar sem precedente
És ara desta demente
Igreja, orada apartada
Do mundo real
Soltas uma satírica risada
Que reverbera pesada
E és designada
Com' um "Anjo do Mal"!...

Sérgio Rodrigues  (Dedicado a uma sonhadora desenhada entre sonhos...)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Cortado, curto decote recortado

Incute a falta de medo
Acciona a vontade e age
Reage, impressiona a pressão do segredo
Que segregaste
Segreda-me o rosnar que reage
Ao ruído rasante, em rol roçaste
Arruinaste o rombo que requer ser arruinado
De marcha-ré, rasgaste
De rompante, num desenfreado
Ritmo ''arrimado''…
Rimaste…
Arruma-te! Profere do inicio
Onde se iniciou o acto!
Anterior noite de libido, o cio
Assentou no farto prato
Dos recortados cortes cravejados
Com sangue! Volúpia erosiva
E lânguidos líquidos lavados e lambuzados
Lambe-me! Inunda-me em saliva!
Lambe-me as marcas!
Lambe-me as feridas!
Levados pensamentos
Sem pensar no custo da sina
Assino sem intentos
Desbravo no vasto mar da tu' vagina

Fervoroso oferecer
Forte enfraqueço e fraco ofereço
Frenético desfaço-me, falso fender
Nada falo, frio e fresco quase faleço...
Findar do fatídico medo de falecer
Finto fugidio fraca facada
Folgo em não fingir meu afinco
Fito o fundo de fonte fechada
Calado falo, calado fico
Calado grito!
Foda-se!
Fode-me a manta que me cobre' alma
Talvez posteriormente ao prévio adormecer
Talvez se…
Talvez se energizar a sugada calma
Me forces, me forniques ao amanhecer….
Repouso, sorrio sentado
Babo-me num ninho bordado
Com fronha de couro improvisado…
Dois despidos corpos acordas
Reabrem o acordo
Onde és maluca e eu sou tolo
Violas-me as vocais cordas
Suavemente mordo
E já não sei se sou eu que me violo
Nem se estou acordado
É tão bom em tantas partes
Certo e errado
Só quero
Que me repartas partas e mates
Mero
Momento aplicado entre portas e ''apartes''
Chovem húmidas cataratas
Sob cobertores, cobrir anseio
Seguro-te as curvilíneas ancas
Acaricio-te o esquerdo seio
O mais frágil fragmento do devaneio…
Patetamente, aperto
Proximamente longe das secas
Do momento
Erradamente certo
Rasgo te as rendadas cuecas!

Enquanto tomamos fumo
Pelo pequeno almoço
Limpas o suco, segregado sumo
Gargalho, porque posso
Das lembranças nas indumentárias
Ah, e com satíricas sátiras
Soltas o mais belo corado gargalhar
Até as marcas em vê-lo
Aleijam o latejar
Teu veneno que se aloja pleno
Desde do duodeno
Até a medula
''Bom dia''
Sorte nula…
Manhã fria…
És tão bela musa, medusa
Que não me petrifica o olhar
Tão imperfeitamente perfeita, usa e abusa
Da minha estranha forma de amar
Da deformada entranha formada em verso
Amo-te até ao mais ínfimo infinito canto disperso
Do Universo!

Sérgio Daniel Alves Rodrigues

P.S. Versados versos, visados físicos
        Baseados em factos verídicos

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Retorna, puta
Em gozo ganho gazes de esporra
Em tu' gruta,
Gozar a gozar tu' cara que torra
Tórrida, arriar
Rente, socos forçados na face
Desfazer-te as mandíbulas
E do malar
Imolar-te como se me matasse
Arrancar-te as frígidas
Curvas carnais encorpadas...
Maluco, louco, insano
Freado, montar.te sem freio
Cona, cu, mamas que abanas
Eu bano... e abano
Ébano... Entre pernas sou teu recheio
Feito feliz petiz, tu, meu recreio
Creio não mais aguentar
Rastejo até terminar, nédio
Voltar-me e vomitar
Desprovido de aviso prévio!

AEDO

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A despedida

Ontem mirarei teus olhos
Oh falsa musa do falso poeta
Que nunca o é...
Mortos ramos fartos insólitos
Profetizarão em prol do profeta
Ralado em "ralé"

Apesar do abandono
Que não abandonaste
Abandonarei o sono
Calmo que recriaste!
Não chores musa, por abalar,
O tremido trémulo término
Instigará o meu voar
Livre, horizontal
Será bem-vindo o dito
Horizonte feudal
Oriundo d'um oriente... Nada oriental
Orientará meu norte
E com sorte,
Falecerei de morte
Erguido e forte!...

Amanhã beijei teus lábios, sábios!
Sabidos antros cevados pecados
Servidos gulosos, sábios lábios
Ontem serão erradicados
Será Deus minha testemunha
Em toda su' inexistência
Que insisti em pedir cunha
E só recebi malevolência...

Goza e sorri
Uma última vez,
Acaricia minha tez
E meu pénis em ti
Estudando teu interior
Húmido como um laboratório
Entediante entendido em "decor"
A decorar um "lavatório"
Sem nada filtrar
Só a profanar
Só a marejar
E inchar...
Forçando as paredes vaginais
Procurando espaço a palmo
Tonto, odre, cada vez mais
Longe de estar calmo
E ejacular
Sémen que por ti adentro flui
Macular
Com lapsos do que já fui...

Regozija-me o fumo pós-coito
Em forma de cigarro
E as manchas líquidas no leito
Os resíduos restantes em teu peito
Que agarro, amarro
Avantajado pela respiração
De um ainda perto pretérito,
Choras pelo coração
E não é meu o mérito...
Não chores, minha inspiração
Não é um adeus eterno
É só um: "até à próxima reencarnação"
Do inferno...
AHAHAHAHAHAH!...

Perpetuarei como ninguém
E ninguém me lê, Atena!
Talvez se for um Zé-ninguém
Me tentem ler por pena...
Rosseau dirá que há cura
Strauss que nada há a curar
Cash dirá que não há sepultura
Que me impeça de voar,
Protejo-me do literário globo
De que sou arlequim
Despeço-me enquanto mísero bobo
Despido pelo povo despedido, enfim...
Afogar-me-ei
Em minhas cinzas!
Beber-me-ei
Até ao último trago!
Adeus! Vidas póstumas minhas
Fumar-me-ei
Até ao último cigarro!
Este falso poeta subleva o punho
E no final do âmago
Doa-vos o dedo meão em testemunho!

Sérgio Rodrigues



domingo, 27 de janeiro de 2013

(Quase) Sem rei nem roque

O meu olhar redireccionado
Olha o molhado mundo
Por um molhado olhar amaldiçoado
Cega visão deturpada, ao embater
No fundo
O contínuo cair
Me aduz o éter
E caindo
Caio em mim
Até subir, subir, subir
Finalmente, enfim...
Subir aos portões do inferno
Anatomicamente incorrecto
Onde o fugaz fogo é eterno
E a justa tortura é um sector certo
O Diabo
Sorri, inicia a penetração
Trucidada do meu recto
Como "quiabo"
Que ingiro, injectando sem noção
Venenos no cérebro
Chamas e ira consomem
As sentenciadas essências que quebro
Saboreando os demónios que me comem
Entranham-se nas entranhas
Regurgitadas que entorno
Cornudos possuídos pelas manhas
Nas manhãs que os encorno...
-"Violem-me em simultâneo!"
Horda conjunta de injustos
Sob ordem do crânio
Que crê crédulo nos bustos
De pedra que não falam
Dizendo mais
Que todos os que gritam
Nos funerais
Festivos das fitas que fitam
Vossos fétidos festivais

O vosso rosto, dói-me...
Dá-me vontade...
O vosso rosto corrói-me...
Ah, a maldade...

Mordo-vos o pescoço até ao osso
Prendo as presas e desprendo
A carne até fazer um buraco
Onde vos desosso
Com a fricção do pénis, fendo
Fundo e airado, esburaco,
Esburaco, esburaco
Acaricio-vos a testa
E tomo posse da festa...

Monto-vos pelas armações cranianas
Puno-vos sem pressa
Injecto-vos sémen nas occipitais veias
E explodindo expludo-vos a cabeça
Até só sobrar um anel em meu prepúcio
O restado resto ratado
De uma caveira desfeita pelo ócio
Oneroso do clímax desregulado
Parecendo padecer de apraxia
Abandono nu, escorregando nos dejectos
Segregados desta contígua alegria
Sobreviventes assemelha-se a fetos
E os gemidos dolorosos
Ecoam
Tornam-se murmurinhos
Voam
Com o fumo que ainda paira
Enquanto aos poucos vão perecendo...
Mas tudo cairá
Enquanto o fumo se dissipa
Meu lar ruirá, aluirá
Mas desta congelante cripta
Manter-me-ei
Rei... E governarei
Falsamente estes falsos mártires
Nada mais belo há, sem ser reinada
Ao nada ser, ser rei do Nada...
Ao menos Rei dos meus cadáveres!...

Sérgio Rodrigues

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Falso cadafalso

O ermo caminha sem caminhar
Acompanhado pela solidão
Em busca dum certo olhar
Olhando sua pessoal perturbação

O falso poeta promete
Não prometer concretizar
Porque já prometeu sete
Vezes não voltar a amar
Tantas quantas pecados
Que cometeu
Seu...
Fardado fardo dos "fados"
Que em vários passados
Tentou abjurar...
Ele deliciou-se com teu
Aliciante mar ocular
De delineada voluptuosidade
Recortada de ansiedade
E emudeceu...
De todas as formas curvilíneas
De teu corpo, aquelas que o olham
São as mais apelativas
Tão sugestivas...
Em sonhos seus, seus lábios te tocam,
Te beijam,
Te molham,
Te desejam
E nunca se fartarão
De desejar
O vão perdão
De prevaricar...

E se ele for acusado réu pecador
Por descrença na diferença
Manter-se-á indiferente, e com alor
Aceitará tal congratulada sentença
Por se sentir merecedor...
Içará o semblante,
Orgulhoso
Declamará divagante
Versos de errante,
Impetuoso
Avançará em frente
Sempre indiferente:

- "Por mea culpa
Me culpabilizo
De bater tu' vulva em polpa
Te profanar o riso
E te lamber os seios
Sem olhar a meios
P'ra t' ouvir gritar,
Gemer,
Rosnar,
E tecer
Uma pequena estrada
De devaneios
Como uma louca parada
Sem rodeios
E em loucura perder discernimento
Desprovido de lógico pensamento
E chupar, sugar toda tu' orgástica
Secreção
Culpado m' assumo por tal fantástica
Actuação,
E não me arrependo por nada,
Voltaria a fazê-lo em dose redobrada!"

Criminoso assumido
Arguido fustigado,
O algoz corrompido
O deixa enforcado,
Pescoço partido,
Dedo meão sublevado,
Bambolear contido
E um circense sorriso estampado!...

Sérgio Rodrigues

PS: Oferenda destinada a uns belos castanhos-azuis olhos, de uns míseros azuis-azuis envoltos em cegueira.