domingo, 27 de janeiro de 2013

(Quase) Sem rei nem roque

O meu olhar redireccionado
Olha o molhado mundo
Por um molhado olhar amaldiçoado
Cega visão deturpada, ao embater
No fundo
O contínuo cair
Me aduz o éter
E caindo
Caio em mim
Até subir, subir, subir
Finalmente, enfim...
Subir aos portões do inferno
Anatomicamente incorrecto
Onde o fugaz fogo é eterno
E a justa tortura é um sector certo
O Diabo
Sorri, inicia a penetração
Trucidada do meu recto
Como "quiabo"
Que ingiro, injectando sem noção
Venenos no cérebro
Chamas e ira consomem
As sentenciadas essências que quebro
Saboreando os demónios que me comem
Entranham-se nas entranhas
Regurgitadas que entorno
Cornudos possuídos pelas manhas
Nas manhãs que os encorno...
-"Violem-me em simultâneo!"
Horda conjunta de injustos
Sob ordem do crânio
Que crê crédulo nos bustos
De pedra que não falam
Dizendo mais
Que todos os que gritam
Nos funerais
Festivos das fitas que fitam
Vossos fétidos festivais

O vosso rosto, dói-me...
Dá-me vontade...
O vosso rosto corrói-me...
Ah, a maldade...

Mordo-vos o pescoço até ao osso
Prendo as presas e desprendo
A carne até fazer um buraco
Onde vos desosso
Com a fricção do pénis, fendo
Fundo e airado, esburaco,
Esburaco, esburaco
Acaricio-vos a testa
E tomo posse da festa...

Monto-vos pelas armações cranianas
Puno-vos sem pressa
Injecto-vos sémen nas occipitais veias
E explodindo expludo-vos a cabeça
Até só sobrar um anel em meu prepúcio
O restado resto ratado
De uma caveira desfeita pelo ócio
Oneroso do clímax desregulado
Parecendo padecer de apraxia
Abandono nu, escorregando nos dejectos
Segregados desta contígua alegria
Sobreviventes assemelha-se a fetos
E os gemidos dolorosos
Ecoam
Tornam-se murmurinhos
Voam
Com o fumo que ainda paira
Enquanto aos poucos vão perecendo...
Mas tudo cairá
Enquanto o fumo se dissipa
Meu lar ruirá, aluirá
Mas desta congelante cripta
Manter-me-ei
Rei... E governarei
Falsamente estes falsos mártires
Nada mais belo há, sem ser reinada
Ao nada ser, ser rei do Nada...
Ao menos Rei dos meus cadáveres!...

Sérgio Rodrigues

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Falso cadafalso

O ermo caminha sem caminhar
Acompanhado pela solidão
Em busca dum certo olhar
Olhando sua pessoal perturbação

O falso poeta promete
Não prometer concretizar
Porque já prometeu sete
Vezes não voltar a amar
Tantas quantas pecados
Que cometeu
Seu...
Fardado fardo dos "fados"
Que em vários passados
Tentou abjurar...
Ele deliciou-se com teu
Aliciante mar ocular
De delineada voluptuosidade
Recortada de ansiedade
E emudeceu...
De todas as formas curvilíneas
De teu corpo, aquelas que o olham
São as mais apelativas
Tão sugestivas...
Em sonhos seus, seus lábios te tocam,
Te beijam,
Te molham,
Te desejam
E nunca se fartarão
De desejar
O vão perdão
De prevaricar...

E se ele for acusado réu pecador
Por descrença na diferença
Manter-se-á indiferente, e com alor
Aceitará tal congratulada sentença
Por se sentir merecedor...
Içará o semblante,
Orgulhoso
Declamará divagante
Versos de errante,
Impetuoso
Avançará em frente
Sempre indiferente:

- "Por mea culpa
Me culpabilizo
De bater tu' vulva em polpa
Te profanar o riso
E te lamber os seios
Sem olhar a meios
P'ra t' ouvir gritar,
Gemer,
Rosnar,
E tecer
Uma pequena estrada
De devaneios
Como uma louca parada
Sem rodeios
E em loucura perder discernimento
Desprovido de lógico pensamento
E chupar, sugar toda tu' orgástica
Secreção
Culpado m' assumo por tal fantástica
Actuação,
E não me arrependo por nada,
Voltaria a fazê-lo em dose redobrada!"

Criminoso assumido
Arguido fustigado,
O algoz corrompido
O deixa enforcado,
Pescoço partido,
Dedo meão sublevado,
Bambolear contido
E um circense sorriso estampado!...

Sérgio Rodrigues

PS: Oferenda destinada a uns belos castanhos-azuis olhos, de uns míseros azuis-azuis envoltos em cegueira.