sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A despedida

Ontem mirarei teus olhos
Oh falsa musa do falso poeta
Que nunca o é...
Mortos ramos fartos insólitos
Profetizarão em prol do profeta
Ralado em "ralé"

Apesar do abandono
Que não abandonaste
Abandonarei o sono
Calmo que recriaste!
Não chores musa, por abalar,
O tremido trémulo término
Instigará o meu voar
Livre, horizontal
Será bem-vindo o dito
Horizonte feudal
Oriundo d'um oriente... Nada oriental
Orientará meu norte
E com sorte,
Falecerei de morte
Erguido e forte!...

Amanhã beijei teus lábios, sábios!
Sabidos antros cevados pecados
Servidos gulosos, sábios lábios
Ontem serão erradicados
Será Deus minha testemunha
Em toda su' inexistência
Que insisti em pedir cunha
E só recebi malevolência...

Goza e sorri
Uma última vez,
Acaricia minha tez
E meu pénis em ti
Estudando teu interior
Húmido como um laboratório
Entediante entendido em "decor"
A decorar um "lavatório"
Sem nada filtrar
Só a profanar
Só a marejar
E inchar...
Forçando as paredes vaginais
Procurando espaço a palmo
Tonto, odre, cada vez mais
Longe de estar calmo
E ejacular
Sémen que por ti adentro flui
Macular
Com lapsos do que já fui...

Regozija-me o fumo pós-coito
Em forma de cigarro
E as manchas líquidas no leito
Os resíduos restantes em teu peito
Que agarro, amarro
Avantajado pela respiração
De um ainda perto pretérito,
Choras pelo coração
E não é meu o mérito...
Não chores, minha inspiração
Não é um adeus eterno
É só um: "até à próxima reencarnação"
Do inferno...
AHAHAHAHAHAH!...

Perpetuarei como ninguém
E ninguém me lê, Atena!
Talvez se for um Zé-ninguém
Me tentem ler por pena...
Rosseau dirá que há cura
Strauss que nada há a curar
Cash dirá que não há sepultura
Que me impeça de voar,
Protejo-me do literário globo
De que sou arlequim
Despeço-me enquanto mísero bobo
Despido pelo povo despedido, enfim...
Afogar-me-ei
Em minhas cinzas!
Beber-me-ei
Até ao último trago!
Adeus! Vidas póstumas minhas
Fumar-me-ei
Até ao último cigarro!
Este falso poeta subleva o punho
E no final do âmago
Doa-vos o dedo meão em testemunho!

Sérgio Rodrigues



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