terça-feira, 28 de maio de 2013

ISTO É O QUE SOU (quem sou eu?)

Em conversa com meu
Imo intrínseco demónio interno
Incidi no pavor seu
E seu inferno me foi terno
Meu cônjuge de conjuntura
Com sorte consorte
Perguntou na mesma altura
-  "Não temes a morte?"
Indagou calado meu responder
Defronte de meu ar absorto
- "Porque a teria de temer
Se nem lugar tenho onde cair morto?"

Sou o que o mundo me gerou
Sou o que dele faço
Luz cósmica, éter, que pugnou
Soçobrado no espaço
Sou sobras de restos
Sobejo de nímio
Sou beijo de funestos
Dejectos de símio
E nem sou obra
Só sobra ser comido
Por uma cobra
Uma naja! Nojo! Ser expelido
Até ao Caronte, Obnubilação!
- "Óbolo ou alma por viajante"
- "Nem na algibeira nem na mão"
Sem índole de réu, cem anos errante!...

Sérgio Rodrigues

segunda-feira, 27 de maio de 2013

O MEU CAMINHO (sonhado)

Pouca poeira se eleva
A passo e passo
Enquanto passeio, neva
Sémen semeado pelo devasso
Devoto Diabo endiabrado
Corpos amontoados constroem
Muros e tecto apertado
Onde me roço de lado
E quase me consomem
O consolo desmesurado
Da desordem
Horda sem ordem, ardem
Anónimos, homens sem "nomen"...
Nunca antes mencionados
Intrépido prossigo
Braços partidos, arrancados,
Tomados, rostos desfigurados
Uma parcela de todos tomo comigo
Tecelão, tecido e atirado... Diabos!
Temerário tenebroso temível
Tomem-me por tanso
Temam-me por tirano terrível
Ou tonel estrepitoso
Ou tolo,
Porque me estiolo!...

Sérgio Rodrigues

domingo, 5 de maio de 2013

Quo vadis?

Surripiei-te
Sem astúcia ou estratagema
Alegrei-te
Num pequeno parque simples com' um "sema"

Levei-te
Ao clássico labirinto do Minotauro
Sorri-te
Era básico, nada inextricável! O "Tauro"
De lá, já devia ter fugido
Por isso não testemunhou
O sucedido!
Lá se instalou
A paz desprovida
De malícia
Alguma perdida
Blandícia
Com gosto oferecida
Com gosto retribuída

Levianos lábios, sabem ao "recém-comido"
Gelado... Frio... Li... Libi... Líbido!

Toar d' um estalido
Que me afugenta o cérebro
Clique... Um gemido
Erecção do membro
Clique... Tudo negro

Desperta-me o olhar
É agora noite
Penetro-te sob o luar
Sou teu açoite
Sou teu flagelo
Quereis meu corpo?
Podereis tê-lo!
Pernoitarás no "Orco"
Precisarás de gelo
Até o Minotauro retornado
Fugirá assustado
E tu' pele branca
Marcada pelo pecado
Sou airado
Sou quem te espanca
Quanto mais m' ultrajas
Maior minha violência
Controlas mil uma "najas"
Eu controlo a malevolência
Injecta-me o veneno
De todas em simultâneo
Estripa-me o duodeno
Fragmenta-me o crânio
Que morra pleno
Mitigando a respiração
Mas que te tenha como manto
Que morra de ejaculação
Em ti, caído, finado, em pouco pranto!...

Sérgio Rodrigues

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Musa Reclusa

O local longínquo
Onde tudo se passou
Recinto contíguo
Contigo começou

As correntes
Aprisionam-te os membros
Persistes
Insistes
Até ao momento dos movimentos...
Lentos...
Recorto-te os mesmos
E mesmo separados
Soltos, enxertados
Sangram drenados
Ainda os sentes, por segundos
Esmorecem golpeados
Fracos, exânimes, moribundos
Ensanguentados!

Sorvo a sobra dos líquidos
Sanguíneos, cálidos
À força servidos
Fervidos, esquálidos
Agora pálidos
Agora retomo o baixo-ventre
Estropio-o c' os lábios
"Entressachando" entre
Os vários
Diversificados cortes
Outrora decorridos
Por outros "orates"
Endoidecidos...

Não tanto quanto eu
Não penso por direito
Mas por direito tomo o qu' é meu
Não sou louco por defeito
Sou algo mais:
Maluco, tolo, demente, alienado
Com problemas mentais
Em ser perturbado, tresloucado, desnorteado
Em paradoxais
Pólos opostos o maior desmesurado
Incuto-o ao lamber
O jorrante sangue de teu corpo trucidado
O que te faz viver
São vínculos de sal grosso em papel amarrotado!
Por enquanto...
Vais respirando...

Teu rosto é dissimulado
Por manchas escarlates
Criand' um estranho camuflado
Apenas teus olhos rutilantes
S' encontram intactos
Estáticos, estacados
Estancados
São quase como dois poços
De fogos
Regozijantes
Apaixonantes
Por ventura demasiadas vezes
Trapaceados...
Acredita, não os quero trapacear
Crê, muito menos ludibriar
Confia, só os quero trespassar
Decepar-te e comigo os arrecadar

Visá~los sempre que for
Do meu agrado
Contê-los ao meu dispor
No porto grado!...

Sérgio Rodrigues