terça-feira, 10 de outubro de 2017

Alvitre

Adoro esquecer de me lembrar
E, quando me esqueço,
Lembro-me... Ao recordar!...
O quanto que mereço
O preço do apreço
O peso do meu chorar!...
Sou um destroço
À deriva no mar
Cujo o próprio se restringe
Em me levar...
Só viso teu semblante como esfinge
Que nem sei se finge
Ou resplandece verdade
Verte-me o ázimo na laringe
Do azo de Sade...
Não sei o que fazer
Com o qu'emana no meu peito
Crivo-o no lazer
No ócio que me consome
No consorte sem nome
No alimento que não me mata a fome
Sou um talismã
Pela metade
Isento, de Xamã
E de chama
Uma vã "masquerade"
Que me masca
A idade, a deidade
Da tasca...
Onde degluto o meu vinho rasca
E fumo o meu sumarento cigarro
Atolado num fumo de catarro
Pensativo
Pensa
Priva
Prensa
Vivo
Aos poucos
Como os velhos loucos
Que me acompanham
Na campanha
Infrutífera faina!... Espalham
Peçonha e manha
Nos gestos sem jeito
Que me (re)lembram a manhã
Ao despertar...
Teu tão belo trejeito
De me abraçar
Beijar...
Do calor do corpo latente
Lábios sedosos
Inexistentes, no meu presente!...

Yekun

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Mare Nostrum

Musa!
Em lira de nota fusa
Pergunto-me porque
Não me levaste com o mar
Nesse Oceano torpe
E só me lavaste o respirar
Sinto-m'arfar
Senti-me só, sem lar
Alegra-me não pensar
Morri!...
Sorri!...
Porque me ressuscitasse?
Porque abalaste?
Porque (re)trataste
Deste simples traste?
E contigo não m'arrastaste?!
Deixaste-
-me a viver no sonho
Onde não consigo enfrentar
A realidade
Do pouco que disponho
Mais valia
Uma mais-valia
Deidade
Ter ficado
Ali, deitado
No mar!...
Em silêncio, sem peso nem pesar
Do meu boiar, nada e sem nadar
Um ser e'star!...
Salgado!...
Sal d'agrado, sal sagrado
Sal... Do mar!...

Árion

domingo, 27 de agosto de 2017

Ne(m)o é (um) poema

Que escrever, oh musa,
Quando a escrita dói
Mas sua vontade
É mais forte e me corrói
Sou uma nota perdida e difusa
Sou Sade
Numa música nunca tocada
Tocam liras
Mas nada me toca
Fogo nas piras
Lobo sem toca
Logro solitário
Lobo vigário
Lobo mouco
Pouco
Rouco
Quiçá mudo
Perco o mundo
Releio tudo
Lobo imundo
Sê meu pastor
Dilacera-me a dor!...

sexta-feira, 16 de junho de 2017

So(m)bras

O desplante
De analisares
Sombras de frente
A um errante
De visares
Díspares
Que nelas deambula
É (quase) tocante,
Mas é também a gula
De tentares
Ver algo que não compreendes!...

Eu respirei as sombras
Apirei su' dor
Arfei seus escombros
Inaleisuas sobras
Fumei seu ardor
Carreguei-as nos ombros
Exalei suas almas
De penumbra... Zumba!...
E mesmo assim tentarei
Tentar-te-ei sequer... Ei!...
A experimentar
Seu desesperado lacrimar

As sombras caminham em si,
Nas sombras ,e, quando pensas
Tê-las...
Não as tens
Do que destruí,
E, do que diluí
Vais e vens...
Quando pensas tê-las expurgado
É aí que o caldo está entornado
É quando as tens mais impregnadas
Em ti... E te esganam, sem "lufadas"!...

Para comunicares com elas
Precisas:
Com precisão
Alienar-te a um certo estado
À mesma distância
Do chão
E do céu... Isolar a relevância
E o fado...
Sentir o maculado
O imaculado
E nesse mesclado
Puro e cego
Sentir tudo!...
Menos o crestar d' um fogo
Gritar mudo
E ser ouvido
Não ser um ser
Sumir sem saber
E sem mexer
Ser-se movido!...
Estar gélido, em sarça ardente
Não ter um único amigo
Não ter umbigo
E ser-se amigo de toda a gente!...

DEmogórgon


domingo, 14 de maio de 2017

Trio-lo-histeria - acto II

A água não é fria
O suficiente
Para refrescar
Meu imo ardente
Bendito dia
Em que ele, (impetuosamente)
Participou do meu banhar
Expludo numa infinidade
De sensações vertiginosas
Apesar de su'idade
Su'libido é jovem,
Suando, abraço-lhe o ventre
(Com as pernas)
Ambas me doem
Pouco, plazerosamente
Como se me esventrasse
Sem sequer me tocar
A respiração é ofegante
Como se me eivasse
Ao respirar
O sentir é dilacerante
Difícil o pensar!...
Dado à confluência corporal...
(Se entregam,
Se projetam
Em viagem astral)!...
As faces, lábios e expressão
Enrubescem de crescente excitação
E os olhares se focam um no outro
Não​ há descrição
Do que nutro...
Somos dois insectos
Mergulhados n'água inebriada
Rostos boquiabertos,
Sem saber onde um começa
O outro acaba,
Nada que nos impeça
D'em prazer incomensurável
Num uníssono inadvertido
O culminar atingir
A zénite do mais amável,
Momento indescritivel!...
Os cinco (sentido)!...
Unem-se num só sentido,
Há saliva de beijo a cair
Imaculando o rio
Não há temperatura
Nem calor, nem frio...
Ah, só há loucura! Pura!...
Desce celestialmente um raio saturnino
Selando tal lance divino!...

Biêd Apep (trovado acto segundo, em prol de S. de seu nome)


quarta-feira, 10 de maio de 2017

Trio-lo-histeria - acto 1

Como o mar m'arrasta infame
Evoco-te Tálassa
Que me banhas o estame
Estagno em graça,
Recorro à  chalaça
E calo -me!...
Embala-me!...
Olhei Hórus nos olhos
Repousando na margem
D' um Nilo tranquilo
Enquanto o mais belo
Anjo afasta os galhos
Boiantes no degelo
Do tom que anilo
Anil  do meu coração
No Nilo rico d' inquietação!...

Anjo, que te banhas
Admiro as gotículas
Que te vão escorrendo
Pelo corpo de volta  ao rio,
Sendo eu voyeur nunca perverso
Vou esmorecendo
De emoção, estou por um fio
E rio,  rio, rio
Nervosamente, obviamente
Aquando de teu corpo imerso
Trocamos um... O olhar...
Intensamente...
Convidas-me, a chapinhar...
Perplexo, por um momento
Sem vestígio de intento
Iço-me d' uma assentada!
Corro a larga passada!
As roupas voam fora
Imirjo n' água refrescante
E sem demora
Emirjo e respiro! Risos!...
Rapidamente contagiante
E por contágio errante
Dois corpos se abraçam, despidos!...

Biêd Apep (trovado acto primeiro, em prol de L. de seu nome)

domingo, 19 de março de 2017

Rima pobretanas, o tanas!

Sinto teu sopro
Dedilhando meu cabelo
Se me contrarias pró
Prosaico me saio
E sem (querer) sê-lo
O sou sem dó
Fulminado pelo
Raio,
Corisco só!...

Com carisma de gaiato
Aparento o desregrado
Rio-me no bambolear
Do perigo
Canto no ribombar
Do fado
Tão triste quanto grato
A mim!... A mim me mato!...
E que é de César? Amigo,
Morto por aparato
Que seja de real quezília
Assassinado,
Ao menos que seja por família!...

"Mait belae apud deae"
O mais belo olhar
Cujo tive o gosto de analisar
De tão teu, às
Deidades sacrificar
Sacrilégio puro
Deificar!...
Não​ vos aturo
S'em pleno desconjuro
M'acusais de nem rimar
Ser um nó no rumo
Seria eu pescador
Se sem aprumo
Ser pintor
Pudesse eu o mar de castanho pintar
E nele pescar
Atado ao fundo
A foguear,
Moribundo...
Quinaria feliz
O mor-petiz
Perdido ao rubro
Rubricado a ouro
Airoso tesouro
O juro?... Eu cubro!...
Eu juro!...
Sou impuro
Contudo, sou nada
Deixar-te-ia tentar-me a mudar
Sei que nem sabes se me quero salvar
Caminho na estrada
Aproximo-me ao afastar
E tu, meu leito... D'húmus, sal e mar!...

Árion

terça-feira, 7 de março de 2017

Poderia dizer-me poeta

Poderia dizer que sinto
Saudade de teus lábios
Se fosse de meu gosto
Sequer beijar!... Sábios
Bebericando tinto
De tão tontos dizem o oposto!...

Podia falar por acaso
Se fosse Pessoa
- Não é o caso!...
Podia (m)amar-te no momento
Se fosse Bocage
Podia ejacular de tormento
Caso amasse bondage
Podia andar, vaguear à toa
Se fosse e fumasse Garret
Limpar o teu chão
Se fosse Almeida!...
Ahaha! Congeminar um não
Se fosse Almada!
Mesmo assim almejar tu' peida
Pim! Ah!... Martirizada
Se fosse Dante!...
Pant! Pant!
Podia conquistar-te, duelar por ti...
Se fosse Vaz sem dois tostões
Suspirar por ti em mi...
Se fosse Camões!...
Querer-te sem te querer
Se fosse Platão
Querer-te morta
Se fosse William
Ou caso fosses um rapagão,
Sócrates poderia ser...
Sendo um tadinho, pam! Pam!
Bateria à tua porta!...

Porém, não sou poeta
Um nada-afecta
Sou areia astral cosmonauta
Um verme (e não Verne)
Que verte conteúdo sem cerne
Em linhas sem pauta
Ofertar-te-ia tudo
Mas nada possuo p'ra te dar
Toma meu corpo, mudo
E muda o mundo em prol de o derrubar!...

DEmogórgon

sábado, 4 de março de 2017

um par de parvos

Nunca conversámos
Porém, quando conversávamos
Dizias-me ser eu um ser
Triste! E eu taciturno
Retorquia não ser um ser, (sequer)
Já então inundavas
A minha noite com teu diurno
Sentimento!...
Não me desaconselhavas
Sem momento
Nem, (sequer), me importunavas
Nessa era, era mais risonho, lamento!...

Eu nunca fui,
Sou, seria se... Ou serei
Triste! Apenas deprecio
O mundo, que não flui
O senão, sem brio...
Vejo-o como sei
Talvez como ele, prolixo,
Eu próprio seja! O lixo
Tóxico da Via Láctea
E tanta hástea
Depois... Fomos crescendo
O cabelo foi aumentando
Eu fui lento, fui lendo
Tu foste falando...
Sem nada sermos
Fomos sendo
Dois corpos ermos
Pendo, mas nem entendo
O quão do quanto fomos dançando
Tu vê-lo belo, eu vejo-o horrendo
Num beijo vivê-la e a vida?!... Vamo-la fumamando!...

Demogórgon

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Míriade de esqueletos

Não há de facto, nada a fazer
Quando se é o cão de Frasier
Fraco, vou descendo
Poeta residente, divina comédia
Comedido, escrevendo
A vida média de quem não a segura
A rédea,
Rente a uma cura
Incoerente...
Indiferente!...

ALoura e atura...

Marino na banca
D'um Belzebu
Bélico e cru
Abarbarizado
Sou pó e branca
Franco, quando nu!...
Inalo meu corpo despedaçado
A pouco e rouco
A ritmo louco
Posso ser um desregrado

Nunca te quis macular
Ó porca imunda!
Já o eras antes de
Nesse teu mundo chafurdar
És merecedora de tunda
E em senão sem se
Teria o mor gosto em ta providenciar!

Por vezes penso
Num futuro
Lugar onde não pertenço...
Não há mau-agouro
Não há destino
Não há dor
Não há caminho
Não há alor
Não há forma de retorno
Parece-me bom e morno
Para lá quero voltar
Leva-me, grande "corno"!
Sou carne de Sade e Mar!...

D3mogórgon