segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Pravo e escravo, tu és

Tombo-te o occipital
Enquanto te esgano
Culpo-me por todo o mal
Sorrio malévolo e profano
Percorro teu cadáver ainda quente
Envolto pelo desejo sem sentimento
E fornico-te incessante incoerentemente
Ah, climático prazer de meu ente doente…lento…
Nada pergunto, não responderias
Apenas acendo o cigarro pós-coito
Abraço-te com lágrimas vazias
E assim crio o nosso leito, pernoito
Em ti uma ultima noite
Tentando adiar a despedida
Que recai como açoite
Do demónio que me deu vida
Escavo, escavo, escavo
À chuva que se vai formando
Parvo, parvo, parvo
À terra que vai escorregando
Lânguido, lascivo ser arrependido…
Enterro-te entre leves mandrágoras
Ninho nefasto, num sofrer contido
Enterro-te junto com minhas mágoas!…
Espero as sirenes, as luzes e algemas
Apático, calmo, ao chão prostrado
Desprovido de quaisquer problemas
Apenas nédio por teu funeral improvisado
Inspiro fundo, mãos na nuca, apaziguado
Finalmente sou aprisionado, por balas fulminado!

Sérgio Rodrigues

domingo, 21 de outubro de 2012

Sinto sentidos

Sinto falta das cicatrizes
Falta desse cadavérico rosto
Dos devaneios onde meretrizes
Ateavam o interior fogo posto...
Mórbidos desejos alucinados
De mente demente atarantada
Mutilada por facas dentadas
Que rasgam a pele e a carne
Soqueio a parede, indomados
Socos descontrolados, irada
Essência... Mãos ensanguentadas!
Logro de não alcançar o cerne
De uma questão nunca perguntada
Marcas numa parede não destruída
Lágrimas numas mãos estropiadas
Grito de um espectro sem vida
Que tortura a alva alma por ti fodida!

E chora a criança que em mim se aloja
A cada gotícula pura e inocente estática
Um negro arcanjo de lá se forja
Que nem flamejante espada indecente, prática
Para o mais pútrido dos seres criado
Ou o mais pestilento ainda por criar
De deturpados leitos, nos membros grudados
Dos leigos com feliz sorriso por deturpar...
Conheçam a merda das minhas trevas
Imolo-vos num sacrifício profundo
E com ímpeto, seguro-vos pelas entranhas
Aduzo-vos à mais bela visão do mundo!

Sérgio Rodrigues

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Graciosa Sabedoria

Nada ou pouco percebo de biologia
Todavia, gostaria de tocar-te o coração
Através do peito, dos nervos, epifania
De rasgar-te o corpo, senti-lo na mão
A latejar incessante
E teu prazer áureo
Sorriso intrigante
Em meu olhar aéreo
Roçar-te o interior das costas
E retirá-lo num só gesto
E... Batidas enfraquecidas, indigesto
Fulgor momentâneo, gostas
Desse vácuo por mim provocado?
Indiferença em minha tez e semblante?
Apraz-te meu ser alienado?
Como foi o fatal, fulcral ponto marcante?
Não me respondeste
Vida... Em ti já não habita...
O nada que perdeste...
Que regozijo empírico...
Estás agora muito mais bonita!...

Sérgio Rodrigues

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Três dias de vida (espero que sejam quatro)

Sentimento de apoteose
Ao deglutir o café duplo
Meu corpo, pura osmose
Percorre como um templo
Como percorro, dose a dose
Imagens que contemplo...

Sonho acordado
Produzo desperto
Longínquo , "aladado"
De tão perto...

Que me bloqueia
O literal discernimento
Cujo anseia
Pelo lento lamento
Ah, apneia
De nosso sono ensonado e rabugento!...

Para Filipa Sequeira (como prometido e antes que desfaleças de ansiedade)

                                Sérgio Rodrigues

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Para: Ana Sofia Cruz


O que é um sonho?
Lato dissabor alado
Riso nervoso e tristonho
Ou medo cerrado
De estar acordado?

Sonho é fuga à realidade
Vero de tão "gido"
Abarrotando maldade
Pensamento corrido
Em si embutido

O que é um sonho?
Ilusão por vezes
Qu'em mim ponho
Logros árduos esses
Não possuo há meses!...

                                               Sérgio Rodrigues