segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Adsumus

 Aligar os factos à prelecção

Que me queres tu?

Vou-te explanar a alocução

Sou algum mu?!..

Disperdo-te o semblante

Estraçalho-te o desplante

Se sou orate errante

Ou tão calmo que é encanitante

Diz lá, o que me queres?!

Sou sonho de quimeras

Ou o alimário que feres

Sou culpado de minhas propostas veras

Ou propósito de motejo

Enfaixado no escárnio!..

É o poder do que versejo

Acéfalos do meu conturbénio

Arremessar-vos contra a parede

Soquetear-vos com meu mau-génio

Era pouco da minha sangue-sede

Por tanto de vos apreciar

Esfervelho, mafarrico 

Pára de me acossar 

Travo o lírico

Ou demonífugo terei d'usar

Nem que "saja" à chibatada

Ah!.. Mas vais estacar

Inanimar!..

Nada te devo 

Demo

De mim equevo

Não te temo 

Se te levo

Blasfemo!..

Estremo!... 


Sérgio Rodrigues







segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Casus in silvis

 Porque me seduzes,

Musa?! 

Sei o quanto não te agrada, 

Mas não abuses,

Abster mea tusa?!..

Por muito que do bosque sejas fada..

É meo poema, faço com'm'aprouver

Denomino-te como quiser!..


Enfim.. 

Desbravo os bosques

Na busca do teu néctar!..

E tu, sim!

Tu!.. Que me subjugas os toques

Lascivos do meu éter

Derribo-te num manto de folhas,

Enquanto teu corpo me avassala

Porquê me tentar às escolhas

Se meu âmago por mim fala

Porque não nos resistimos?!..

Pois não somos asininos


Explico o meu lado..

Toda tu és o raio maldito d'uma perdição!..

Porra de fado!..

Forjada da mais bela carnação,

Munida de garras níveas

Tão belas quão demoníacas

Olhos explosivos, 

Que me crestam a alma..

Tão belas presas e incisivos

Que me dilaceram de prazer..

Dedo preciso que me palma

Que me transmutam a teu pascer

Como se fosse pedaço de miasma

Um sorriso ardente que me pasma

Guarnecida de cérebro orate

Apraz-me, nem que me mate

És a loucura fiducial

Que amena a minha alienação mental!..


Mas nem matutes em demasia..

Deixa os pensamentos

Viajarem pelos ventos

Numa nortada razia!..


Sérgio Daniel Alves Rodrigues

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Opsimatia

Do Édipo ao síndrome
Amo-te mãe! Cuja
Me deu nome

Bruma suja
Areal intruja,
Sabuja!...
Deixem meu eu
Incólume!...
Ser o lume
Desse breu
Tão solitário
Lobo que sou
Desértico dromedário

Nume?! Onde estou?

Socalco d'um numerário
Num amontoado
De bis... Bis...
Bisonte desterrado
Viso o mote alado
Quis (Deus)... Por um triz
Ser abençoado

Deixai-me ser...

Não necessito sociabilidade
Nem correr
Atrás da promiscuidade,
Da efemeridade

Deixai-me o ópio

Suportar outrem?
Não aguentarias
Cinco minutos comigo próprio!...

Além!

Iguarias
Quinquilharias
Rias
Quim, que te rias
Do próprio flagelo
Gargalha cubos de gelo
Inertes na tu'bebida
Mais penada que sofrida
Liquefeita na tu'sina
Que tu criaste
Que tu... Rotina
Que tu geraste
E desgastaste
Traste...
Triste...
Ris-te
Do logro alheio
Do receio
Recreio
Labor
Sabor
Recheio
Anseio
Ardor
E nada importa!...

O barco partiu
A chuva caiu
O vento cambou
O alarme soou
E a imagem da comporta
Foi o que restou
Dos teus pés húmidos
No cais... Contidos
Húmus idos!...

Um bilhete na mão
Um botequim no canto
Um sangue no chão

Bebida no manto
São tu'única solução
Soluça então
Mas baixinho
No ponto alto do balcão
A-dor-me-cido-zinho!...

Aedo Árgon

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Todo tu, totalmente orate, ora!

Tenho as entranhas
Viradas do avesso
Posso ser um diabrete, Almocreve
Um miúdo travesso
Por vezes leve
Ou até, levado da breca...
Qual é o penado que não peca?
Porque dóis, meu amigo âmago?
E me ruminas este éter amargo?
Não vou desistir do fado
Logo quando ele me completa
Já desisti do arrependimento
Do logro Sado
Do sadio choro lento
E da conversa da treta!...
-Musa, sabes de que matéria sou feito
Por isso te digo o não sou,
Não sou um joguete, nem perfeito
Não sou o que o vento levou
Nem o que vai com o vento
Não sou maldoso por intento,
Nem sequer sou o mais atento...
Atenta:
-Sou humano e alienígena
Forte, tanto quanto fraco
Caçador, presa e hiena
Sou Atena e Baco
Sou uma bacorada do universo
Um livro aberto
Páginas brancas, excepto o verso
Idiota, imbecil e esperto
Apartado da realidade
Rimo em verso
Verto piedade
E nela imerso,
O inverso
Do persa no tapete "allado"
Despronti-personificado
Crápula de gramática
Um zero um de matemática
E matemático de junco pilhado!...
Em suma, um amotinado
Desregrado!...


Demogórgon Arion

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Aedo, cedo!...

Sugeriste em mim
A reminiscência
Surgist'em mim
E, sem ciência
Sentaste-te assim
Assinand'o fim,
Porém
(Talvez) Por bem
O contínuo em decadência
Da fragrância da vida,
Sem entenderes
Qu'a mesma deve ser sentida
Mais do que vivida
Vívida, lívida, perdida!...
Em teus afazeres
Perdend'o toque leve
Dos mais belos seres
Dos quais sou almocreve
Se... Tch... Se d'algo serve:

Não te culpo
Não te bajulo
Nem te culpo
No vinho qu'engulo

[Nem t'esturpo    [Não te sei, sequer
Nem te desosso    Não t'agouro
Não te furto          Nem o há se quer
Não te posso]    Nem o fá, nem ouro]

[Voltar atrás,         [Contudo,
Querer,                    Se não asso
Não m'apraz           Estudo
(Não) ver!...]      És tudo, erro crasso]

Onde sujeitos deambulam,
No preâmbulo, sabia-o eu
Gárgulas que me degolam
Sigo-te com'Orfeu
Ao Hades
D'onde voltar não hás-de...
Que por mui mal me fades
Por bem me trazes
Assim hei-de
Colmatar mias meias mesmas frases!...
Piu, piu... E pio,
Piarei aos estros o desvio
Coração belo
Estômago bélico
Do quanto grelo
Definharei télico
Por ti, Portus!... Por um fio
Apaga-s'o pavio
Parto com brio
Brilho em e no estio
Nem calor, nem frio!...

Sérgio Rodrigues

sábado, 20 de janeiro de 2018

In medio virtus

A vida é um barco deambulante
Oh, Musa! Nas mudas marés
Poderá um'ode ser errante
Se s'iniciar in media res?!...
Posso não ser o mor-hábil
A compartilhar meu sentir
Saudade que sinto? É táctil...
Do meu vexar ao a reprimir
Viandas em meu pensamento
Enquanto,
Jornadeio em teu olhar
Tanto,
A congeminar
Como a foçar sem fundamento,
Alento,
E sem forçar
Recorro ao teu encalço
Ao teu regaço
Ao teu abraço
De ti sedento!...
Sitibundo!...
Onde o lascivo e o imundo
Escalam fundo
Até me perder,
De prazer, No teo mundo!...

Imergir em teu néctar
Como um canibal
Eximido do racional, Lecter!...
Contacto canib...Hannib... Animal!...
Em leito lato, fogo imenso
Satisfazer-te? Meu ofício
Lamber-te as entranhas? Tusso, tenso
És mais que um vício!...
És mais que um sonho
Que sonho apaparicar
Tacteando tu'nívea tez
Síncrono ao teu regozijar
Gozo às Vossas Mercês!...
O qual também disponho
O qual tão bem aponho
Sem demandas nem porquês
E sem roupas! Vamos lá ver!...
Não há quentura como a pele do ser
E não há modas no nu prazer...
Há sim o som num tom risonho
E há mais que um tom magenta
Ouve-s'um ofegar que não s'aguenta
Vê-se o sabor, sal, pimenta!...
Privo-me de palavras pecadoras
Já falei demais senhores e senhoras
Do qu'a mente assenta!...

Desconheço o total critério
Em crer e querer a união
Nossa... Nossa! Ao impropério,
És mais qu'a Natureza em força, és mea Estação!...

Sérgio Rodrigues

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Alvitre

Adoro esquecer de me lembrar
E, quando me esqueço,
Lembro-me... Ao recordar!...
O quanto que mereço
O preço do apreço
O peso do meu chorar!...
Sou um destroço
À deriva no mar
Cujo o próprio se restringe
Em me levar...
Só viso teu semblante como esfinge
Que nem sei se finge
Ou resplandece verdade
Verte-me o ázimo na laringe
Do azo de Sade...
Não sei o que fazer
Com o qu'emana no meu peito
Crivo-o no lazer
No ócio que me consome
No consorte sem nome
No alimento que não me mata a fome
Sou um talismã
Pela metade
Isento, de Xamã
E de chama
Uma vã "masquerade"
Que me masca
A idade, a deidade
Da tasca...
Onde degluto o meu vinho rasca
E fumo o meu sumarento cigarro
Atolado num fumo de catarro
Pensativo
Pensa
Priva
Prensa
Vivo
Aos poucos
Como os velhos loucos
Que me acompanham
Na campanha
Infrutífera faina!... Espalham
Peçonha e manha
Nos gestos sem jeito
Que me (re)lembram a manhã
Ao despertar...
Teu tão belo trejeito
De me abraçar
Beijar...
Do calor do corpo latente
Lábios sedosos
Inexistentes, no meu presente!...

Yekun