quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Sentenciado

O poeta quis ser pintor
E viu-se um triste traste
Em lamento
Chorou a escondida dor
Do coração que dissecaste
Sem pigmento...

Quanta falsidade poética
Falso!
Êxodo irrefutável,
Caído em su' própria métrica,
Um cadafalso
Infindável...

E quanto mais cai em "si"
Menos deseja ser socorrido
Sempre que ergueu a mão
Mais foi empurrado e
Agredido,
Injuriado sem perdão...

Sentiu sem sentir
P'ra revogar o fado
Permanente,
Fugiu sem fugir
P'ra nenhum lado
E agora simplesmente...
Nada sente!...

Sérgio Rodrigues

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Auto-(re)Trato

Amaldiçoado aquele
Que caminha ermo
Insensível à dor na pele
Pravo estafermo
Envolto numa aura de fumo
Sempre tão negra
Sempre sem rumo
Fugindo à regra
Do seu próprio labirinto
Apaziguando mágoas
Em ópio e absinto
Por vezes em tábuas
Reflectoras d' adrenalina...
Acompanhado pela escória
Pobretão sem sina
Indigente sem história...

Ele é quem esmiúça a violência
Procurando a calma
Ele vendeu a inocência
Ele vendeu a alma
Apenas pelo pensamento
Um pequeno traço libertino
Levou-o o contentamento
D' um Lúcifer assassino
Carrasco corpulento
Prometeu-lhe infinito prazer
Em tudo foi falso
Mas ele é falso poeta
Não quer nem nunca quis saber
Sempre caminha descalço
Por desviada via incerta
Amedrontado pelo ser
Pereceu ao nascer!...

Sérgio Rodrigues

sábado, 1 de dezembro de 2012

Rapto

Não é meu desejo invocar-te
Ó musa...
Almejo ir violentamente buscar-te
Gulosa
Mente
Irosa
Indecente
E trazer-te...
Arrastada
Pela urbana
Selva, quase desmembrada
Despedaçadamente desumana
E ver-te sangrar...
E perder-me
A perder
Querer-me
A querer
O fauno nefasto
Casto
Prazer... De te ver
Perecer...
Término insuportável
Dor aguda!
E clamas, incessável
Por ajuda!...

Sérgio Rodrigues

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Apelo a Cultura

Musa tripartida
Jean
Jaques
Rosseau...
Honorária vida,
Um clã
"Tiques", "taques",
Tombeau
Em honra de si, eluísse
Ou em su' falta
Em honra d'algo qu'abulisse
Toda esta malta...
Apontadores
Do dedo inquisidor
Degoladores
Do medo conhecedor...
Perdoai-me
Olímpico Zeus
Mefítico Hades
Perdoai-me
Vergilius, Prometheus
Por tais cobardes
Livrai-me
Maomé, Jesus e Buda
Anti-Cristo, Satanás
Livrai-me
Da luz que nos gruda
E libertai-me
Como Barrabás!...

Sérgio Rodrigues

domingo, 25 de novembro de 2012

Toques lascivos

Ainda acordo duro e quente
Por aqui, por ali
Possuído, masturbo-me velozmente
A pensar em ti...
Ah, teus seios
Tão perfeitos, tão hirtos
Devaneios
Eram perfeitos jazigos
Porque em ti morria
Em ti acordava
Em ti, sorria
De alegoria
Enquanto ejaculava!
Luxúria e sexo oral
Gemidos contidos
Secreção e suco vaginal
Inundado de fluídos
Se deprecias a perversão
Ou minh' ânsia que não morre
Não temas a exaustão
Do suor que por nós escorre
Nojento,
Que tanto me apraz
Violento
Ainda te fornico por trás...
Seguro teus seios
De novo... Tão perfeitos
Ejaculo de novo enquanto te mordo
E agora é tudo fumo que recordo...
Sorris e perguntas se te amo
Não respondo, respiro forte
Sexo não é amor nem desengano
Mas... Com tanto ímpeto profano
Amar-te-ei até à morte!...

Sérgio Rodrigues

Golpes corpóreos

Tentei sentir a solidão
E caí, dissentido
Sem apoio nem ganha-pão
Num abismo indefinido
Criado
Por lobos humanos
Gerado
Por entes insanos
Temi o súbito
Temi Prometeu
Tremi, concúbito
Tremi... Eu...
Já fui copista
Já fui "Sade"
Alquimista, alfarrabista
"Maçon" e frade
E sempre pequei
Glória no crime
Já sequei...
Arrependi-me
Do bem que fiz
Esbofeteei
Quente e petiz
Torturei, suei, marquei
Cortei-te e sangrei
Ainda sinto teus cortes em mim
Já te bajulei
Agora mordo o lábio sem o "Sim"
Recordo tu' pele dócil... Como linho
Era fácil de cortar e sangrar
Agora... Estropio-me sozinho
É mais rápido o sarar
Cada vez mais
Difícil de quebrar
Jamais...
Jamais chorar...
Lágrimas lavadas
Essas não levavas
Se me soubessem magoar
Como tu magoavas!...

Sérgio Rodrigues

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Meu cárcere (meu quarto)

Perco-me num triste cigarro
Único, queimando lento,
Em húmidas lágrimas me agarro
Auto-flagelo sangrento
Controlo-me emudecido,
Soltos
São os gritos da libido,
Pontos
São vários onde o mesmo apago
Em meu corpo agora marcado
Sinto-me simples orago
Não suficientemente mutilado
Falta-me o gozo de te magoar
Penetro teu olhar, com malícia
Esfaqueio teu abdómen até drenar
Toda tu' matéria excrementícia,
Suportas
Minha demoníaca face ensanguentada
Mortas
Tuas mãos trémulas... Apenas nada
Só medo, dor, ira, euforia... Ira!
De meu riso ensurdecedor,
Cinzas viras nesta grotesca pira
Confeccionada com amor
Terror, horror
Dor, cinzas sem cor,
Odor
Putrefacto, fétido e eu selado... Bafio
Amargo... E eu só neste quarto vazio...
Sombrio... Frio...

Sérgio Rodrigues

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Desafogos

Fitei teu mundo por um segundo
Senti teus sedosos lençóis suaves
Muito ao de leve, exânime, moribundo
Desejei, ardente... Quebrar entraves

"Angelus"! Sorriso rude...
Bebo à tua saúde
Teu licor envenenado
Cálice amargurado
Contacto visual
Mantenho
Teu olhar
O qual
Desdenho
E sonho
Em tal
Me afogar...
E emergir,
Admiração
Por não cair...
Objecção!
Esse veneno
Sinto-o no peito
Ameno,
Não faz efeito...

Nada temas, porque tal momento antevi
Munido de arma, munição e bagagem
Logo vi teus intentos quando te sorri...
Duas balas, ambas para mim,
Sim...
Uma de suicídio, outra se me faltar coragem!

Sérgio Daniel Alves Rodrigues

domingo, 18 de novembro de 2012

Ciclo

Penso e repenso
Na culpa que me confunde
Acusei inocentes, imenso...
Agora a culpa que me inunde
Agora torpe
Imundice para onde me afastei
Agora a morte...
Absorvo o Inferno d'onde não retornarei
Tísico fogo ardente a dançar
Sopro, sopro, sopro
Arde mais forte, morro
De ânsia, não pares de queimar
Consome-me a alma
Devora-me o espectro, demónio!
Dor que me acalma
Tremores assassinos, escárnio
Milícias pacíficas
Pérfido culminar
Torturas rítmicas
Obras míticas
Devasso pensar
Admiro teus lentos movimentos
Escondido nas trevas deste poço
Paciente, olhos penetrantes, atentos
Até ao exacto momento de te caçar os lamentos
Pelo pescoço!...

S. Rodrigues

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

"Orate"


Não sei porque aprecio o desprezivel
Ou porque me atrai o pecaminoso
Ou porque o pestilento, mefítico é-me aduzivel
Nao sei porque sou... iroso
Mas sei que te miro
Dama de negras vestes em trapos
D'alva tez
E quando me viro
Por entre as sebes de ramos fartos
Tambem me vês
E desdenhas o meu infortúnio
A minha tristeza
As lágrimas de que me rio
A minha beleza
Que mais ninguém admira
O meu suave riso rouco
Porque eu sou dissimulado e pilantra
E louco...
Louco, louco, louco, tão louco...
Devia ser internado num hospital psiquiátrico
Porem nao me querem alimentar mais
Acusam-me de ser demasiado sádico
Ou não entendem meus sinais
Ou não há cura, sou louco demais...
Arrepender-se-ão, talvez não já, mas agora
Vou formar um grupo de débeis mentais
Porque os piores estão cá fora!...

Sérgio Rodrigues

domingo, 11 de novembro de 2012

(Des) Embarcado

Clamo musas invocadas
Às mais humildes imploro...
Vós, de túnicas torpes e rasgadas
Rogo o mínimo num desaforo
Contido, em vossas sardas
Onde cantam lágrimas em coro
Onde minhas intenções refutadas
Maculam vossas faces rosadas
Deviam tais descer imaculadas
Em meu logro por vosso choro
Viveria de vossas palavras
Num destilado raro soro...

Sofro!
Neste ínfimo porto sem cais
Só com um solitário barco atracado
Tão só... Sensível a toques termais
Esperando apenas a ser navegado
Afectado por vossas libertações lacrimais,
Atolado, alagado, afundado...
Nostálgico nas águas que já não profanais
Saudade da lais
Sonhando com os que agora remais
Pois não há sustentáculos num "velejado"
Nem tampouco acessos pedonais
Em restos d' um barco abandonado!...

Sérgio Daniel Rodrigues (em prol de passarinhos esvoaçantes)

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

"A DUO"

Já idolatrei tua essência
Outrora,
Processo de decadência
Agora,
Almejo tua decapitação
Onze segundos... Observar
Antes de te violar... Olhar
Teu corpo em decomposição
Oh, musa,
Beijar vagarosamente...
Oh, tusa
Curvas deificadas, sente
O ardor gélido permanente
Sim, escarnificação e cortes
Desenhados, várias mortes
Te proporcionei numa só,
Ergo-me
Num salto e sinto um nó,
Vergo-me
Para regurgitar,
Odor nauseabundo
Mundo gira, não pára de girar...
Raio de mundo!
Seguro tua cabeça decepada
Com ambas as mãos, geladas
- Odeio-te, não és nada!
(Minto com todas as palavras)
Ajoelho-me, iço
Um grito "ecoante"
E um riso
Ainda mais trovejante
(Não sabia que chovia...)
- E agora musa? É oco teu olhar,
Chora o rosto que antes ria
Mas é por pouco tempo,
Uma foice não o tarda também em degolar
Sem voz, sem dor, sem lamento,
Contíguos cadáveres sem respirar
Ensanguentados, no pavimento!...

Sérgio



Concúbito

Eu tenho um desejo que é pecado
Copular com um virginal demónio
Fornicá-lo noite adentro, ritmo descontrolado
Morrer literal num orgasmo antagónico
Ofegante até ao nascer do dia
E vê-lo desfazer-se em cinzas
Quando a luz solar lhe tocar nas linhas
Voluptuosas delineadas do corpo perfeito
E falecer imolado no fogo do nosso leito
Rasgar-lhe a pele endurecida
Até só ver tecido muscular
Ser de benevolência carecida
Não pares de me esquartejar
Ah, meu Deus... Tanto tesão
Espanca-me, esmaga-me em pedaços
Por O invocar em vão
Tens de me prender os braços
Senão parto-te a espinha contra a parede
E não acalmo nem acalmarei
Enquanto tiver fôlego e sede
Sede do sangue recíproco que se mistura
Aquele cujo eu implorei
E agora me afaga... Degluto-o como um rei
Levado de semblante repleto de loucura
Gritamos, rosnamos com um clímax inesperado
Sofro de demasiadas sensações neste apogeu
Caímos sem vida, lado a lado
Agarras meu coração na tua mão, e eu no teu!

Sérgio Rodrigues

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Mefítico

Vou partir numa demanda
Em busca da minha destruição
Devasso aroma a lavanda
Banhar-me na lava do teu vulcão
Doce ardor, enxofre flamejante
O calor na minha pele, regozijante
Movimento pélvico incessante
Prazer e dor, ah... Mulher de Dante

Vou enfrentar teus pecados mortais
Alegrar-te, magoar-te, até me imortalizar
Nas tuas oásicas vulcânicas águas termais
Macular-te, bajular-te, até me controlar
Não imaginas o louco que sou
Imaginas, não sabes o que sobrou
Da demência casta que agora voou
Num ténue sopro que a fuzilou...

E a enterrou em campas nobres
De lápides rudimentares e pesadas
Circundada d'almas podres e pobres
Sedentas de tuas carnes trespassadas
Pelos dentes destes entes brutos, obscuros
Decrépitos, mas leais, de olhos vagos e escuros
Temidos pelos mortais, mesmo pelos mais duros
Vê-los-as cientes perante ti... Pesadelos puros!...

Sérgio Rodrigues


terça-feira, 6 de novembro de 2012

...

Caminho sozinho na rua
Merda na minha cabeça... Descontrolado
De expressão nua, tão crua
Esquizofrenia, loucura... Todos me olham de lado...
Foda-se!
P'ra tudo e todos, deambulares tortos...
Foda-se
P'ra mim, de frente estão tão mortos...
Revolto-me com o planeta
Por causa de alguns meros filhos da puta
Ansiosos por um caralho que vos meta
Siso nessa estúpida cabeça tão astuta
Baixem os cornos neste Inverno
Como baixo os meus até esconder a cara,
Ardam nos fornos deste inferno
Que vos queima a réstia d'alma que nunca sara!
Engano meu, nunca esmaguei crânios vossos
Mas profiro-o a sorrir
Os vossos viram p'ra dentro... E gulosos
Perfuram até nada existir
A não ser simplesmente ar
Asnos merdosos, nem lugar nas trevas possuís
Certo é o meu desde o meu primeiro luar
Imolar-vos-ei lá como aqui me fodeis e me fodíeis
Porque lá... Meus inaudíveis risos vão ecoar!...

Sérgio Rodrigues

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Pravo e escravo, tu és

Tombo-te o occipital
Enquanto te esgano
Culpo-me por todo o mal
Sorrio malévolo e profano
Percorro teu cadáver ainda quente
Envolto pelo desejo sem sentimento
E fornico-te incessante incoerentemente
Ah, climático prazer de meu ente doente…lento…
Nada pergunto, não responderias
Apenas acendo o cigarro pós-coito
Abraço-te com lágrimas vazias
E assim crio o nosso leito, pernoito
Em ti uma ultima noite
Tentando adiar a despedida
Que recai como açoite
Do demónio que me deu vida
Escavo, escavo, escavo
À chuva que se vai formando
Parvo, parvo, parvo
À terra que vai escorregando
Lânguido, lascivo ser arrependido…
Enterro-te entre leves mandrágoras
Ninho nefasto, num sofrer contido
Enterro-te junto com minhas mágoas!…
Espero as sirenes, as luzes e algemas
Apático, calmo, ao chão prostrado
Desprovido de quaisquer problemas
Apenas nédio por teu funeral improvisado
Inspiro fundo, mãos na nuca, apaziguado
Finalmente sou aprisionado, por balas fulminado!

Sérgio Rodrigues

domingo, 21 de outubro de 2012

Sinto sentidos

Sinto falta das cicatrizes
Falta desse cadavérico rosto
Dos devaneios onde meretrizes
Ateavam o interior fogo posto...
Mórbidos desejos alucinados
De mente demente atarantada
Mutilada por facas dentadas
Que rasgam a pele e a carne
Soqueio a parede, indomados
Socos descontrolados, irada
Essência... Mãos ensanguentadas!
Logro de não alcançar o cerne
De uma questão nunca perguntada
Marcas numa parede não destruída
Lágrimas numas mãos estropiadas
Grito de um espectro sem vida
Que tortura a alva alma por ti fodida!

E chora a criança que em mim se aloja
A cada gotícula pura e inocente estática
Um negro arcanjo de lá se forja
Que nem flamejante espada indecente, prática
Para o mais pútrido dos seres criado
Ou o mais pestilento ainda por criar
De deturpados leitos, nos membros grudados
Dos leigos com feliz sorriso por deturpar...
Conheçam a merda das minhas trevas
Imolo-vos num sacrifício profundo
E com ímpeto, seguro-vos pelas entranhas
Aduzo-vos à mais bela visão do mundo!

Sérgio Rodrigues

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Graciosa Sabedoria

Nada ou pouco percebo de biologia
Todavia, gostaria de tocar-te o coração
Através do peito, dos nervos, epifania
De rasgar-te o corpo, senti-lo na mão
A latejar incessante
E teu prazer áureo
Sorriso intrigante
Em meu olhar aéreo
Roçar-te o interior das costas
E retirá-lo num só gesto
E... Batidas enfraquecidas, indigesto
Fulgor momentâneo, gostas
Desse vácuo por mim provocado?
Indiferença em minha tez e semblante?
Apraz-te meu ser alienado?
Como foi o fatal, fulcral ponto marcante?
Não me respondeste
Vida... Em ti já não habita...
O nada que perdeste...
Que regozijo empírico...
Estás agora muito mais bonita!...

Sérgio Rodrigues

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Três dias de vida (espero que sejam quatro)

Sentimento de apoteose
Ao deglutir o café duplo
Meu corpo, pura osmose
Percorre como um templo
Como percorro, dose a dose
Imagens que contemplo...

Sonho acordado
Produzo desperto
Longínquo , "aladado"
De tão perto...

Que me bloqueia
O literal discernimento
Cujo anseia
Pelo lento lamento
Ah, apneia
De nosso sono ensonado e rabugento!...

Para Filipa Sequeira (como prometido e antes que desfaleças de ansiedade)

                                Sérgio Rodrigues

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Para: Ana Sofia Cruz


O que é um sonho?
Lato dissabor alado
Riso nervoso e tristonho
Ou medo cerrado
De estar acordado?

Sonho é fuga à realidade
Vero de tão "gido"
Abarrotando maldade
Pensamento corrido
Em si embutido

O que é um sonho?
Ilusão por vezes
Qu'em mim ponho
Logros árduos esses
Não possuo há meses!...

                                               Sérgio Rodrigues

segunda-feira, 5 de março de 2012

Vontade intrínseca esmagadora
De me tornar fumo inalado
Reviso minha ferramenta degoladora
E torno-me vulto camuflado
Misturo-me sonora e visualmente
Desvaneço do palpável
Assemelho-me a espectro dormente
Como o vento maleável
Passas próximo a mim
Alvo em minha lista
Abro minha bainha de marfim
Respiro fora de tu' vista
Seguro o inspirar, fundo
Espero o certo momento
Em pouco menos de um segundo
Decepo-te e cais... Lento...

Sérgio Rodrigues

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Nédio

Com tanto maná mental
Permaneço nédio
Cravo conhecimento em metal
Vil, base do tédio
Onde os espectros sucumbem definhados
Hirtos, ermos nunca regozijados
Acessos descontrolados pelo total controlo
Malditos néscios que torturam o simples tolo
Possuidor de um "ror" de poder, criando tabe
Degenerativa... Mas o tolo não o sabe
Não é arguto para controlar
É desprovido de maldade
Do pouco que tem a argumentar
É a consanguinidade...

Daniel Alves (tributo pessoano)

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Estúpida saudade, estúpida saudade
Que em mim se aloja como alarve
Renego-te temendo por minha sanidade
Passeio nómada feito feliz almocreve
No intuito de chacinar
Roubar,
Matar
O corpo que me movimenta
Elevar
A mente temperada com pimenta
Deste sustentáculo que nada me sustenta
Percebido conteúdo de meu divagar
Quem alimento com incessante brio
Visar o olhar louco, oco, vazio
Rio, rio, rio e rio...
Num esforço logrado p´ra não lacrimejar

Sérgio

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Auto-retrato

Se fosse eu um simples personagem
Seria quimera sem lei
Apenas olhar oásico, prudente miragem
Póstumo servo sem rei
"Atentamente" desatento
Só legível nas entrelinhas
Observador como passatempo
Mesmo não parecendo... Vinhas
Minhas dão ramadas
Uvas, cada uma, pensamento gerado
Que depois fermentadas
Baixo teor alcoólico... Fico embriagado
Com suposta intrusão alheia
Que me pensa ter visto até agora
A quem todos pensadores receia
Que mira de dentro para fora
Longe de mim querer ser misterioso
Todavia escondo o interior
Nunca tentei sequer ser corajoso
Nunca partilho minha dor...

Sérgio Rodrigues

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Puro interior

Farto de me esconder por trás das brumas
Da merda do pão que o diabo amassou
Vou finalmente retirar as cortinas
E revelar-te a verdade do que sou...
Um demónio em mim não habita
Esse ser malévolo sou eu
Sou escória, simples ralé, "ita"
Sou tão claro como breu
Meu paradoxo ambulante
Surge em vis contrariedades
Veterano e debutante
A mais usual das raridades
Tanto quanto agárico
Comestível, puta de veemência
De um só ser árico
Que me convence com eloquência
Ao menos na merda em que consisto
Ganho o valor do desrespeito
Foda-se a dor do que resisto
No homúnculo que me dispôs no leito...

Sérgio (bird) Rodrigues

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Botequim

Já sentia saudades,
Pensamentos perdidos entre si
Mentiras e verdades
Retomo ao local onde morri
Só como observador
Imparcial e controlado
Nefasto, vil roedor
Necrófago e mutilado
Abraçado pela doce vida
Odor fétido no esgoto, meu lar
Onde pertenço, casa querida
Vivo morto sem a querer renegar
Sou o que sou, um demónio sujo
Profanamente puro, sou assim
Pródigo vivi muito do que fujo
Contudo, tudo é novo p'ra mim!

Sérgio Rodrigues

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Ampulhetas

Tudo negro à minha volta
Todo eu sou cinzento
Fatídico demo que me escolta
Calor gélido do vento,
Merda, tanto orgulho
Fode a podridão mental
Puta de dor no mergulho
No salto que correu mal,
Talvez sorte macabra
Cabra sortuda, erma
Lúdica, pudica cabra
Arada de esperma
Que a vida te providencia
No tempo avaro que não te acode
Porque só a vida fria fia
O caralho do destino que te fode!

Sérgio Rodrigues