sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

"Te deum" poema

Repercute o murmurinho
Dos tempos que se tornam bruma
Uma diminuta vista sem ferro nas pontes
Época de azevinho
Entristece a paisagem
E jorram fontes
Um (ou outro) rosto fuma
Intrínseco na miragem!...
Deu um quadro sem imagem!...

Comparas-me a Palma?
Sinto-me elogiado
Por ser alvo de tão grande injúria!...
Eu?! Um ser surripiado d' alma
Crestado de fúria!...
De tão maculado...

Bocage não te ouça!...
Que dará voltas no túmulo,
Partirá a louça
E sovará o Português a cúmulo!...

E Garret? Ninguém o vê!...
Será ele digno de opiniões?
Quem se pergunta não o lê
Mas quem lê reticentes exclamações
Sem se procrastinar de tema
O reconhecerá no início "Deum" poema!...

Árion

OBS. Um desobrigado cara R.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Dor no espectro

É de meu desejo abalar
O Real Mundo!...
Um imundo mundo Cão
Todo moribundo
Quanto de fronte me posso entregar
Se só perfil me dão!...
Grã-horda do culto do ser acéfalo
Onde o estulto cai por terra, nu, no supérfluo
Mor-frota educada a estalo!...
Admirada, estampada em meu rosto incrédulo!...

Possuo o semblante demoníaco
Que vos corrói a mente?
Ou um suave aperitivo de amoníaco
Inexorável docente
Doce e descontente
Com este globo indecente
Pérfido prefixo impertinente!...

Sub-dosagem à sub-contagem
Sub-carregados de sub-imagem
Sub-formatados em "sub" agem
Sub-regente de um sub-pajem
Sois sub-nada, sub'-stituídos e super-sub-bobagem!...

Se o mundo fosse um teatro
Seria este o cair do pano
De uma peça sem décor da cor do profano
Elejam-me Bobo-mor, Zoroastro!...
Sem recursos, nume, nome, mundo e astro!...

Árion

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Enlevo penumbroso

Onde andais vós?
Oh, nobre musa
Dedilhai-me o corpo atroz
Teus peitos cheios
Almejo eu encher de tusa
Enxaguar-te de porra imunda
Os seios!...
Apalpar-te os meios da tua cona funda
Perder.me em ti
E em ti perder a vergonha
Pede-me o que perdi
Prostrada em langonha
Engole até à ageustia
Trata-me como o animal que sou
A Besta do frenesim, da heresia
Desmonta a magia que te montou
Tombou, culpou, matou
E visou bisar onde geou!...
Anda puta! Solta as rédeas
E vem guerrear
Sem solicitações idóneas
Sem adornos, só tornear
Eu só... Eu só...
Necessito de merdas p'ra me sentir vivo
Eu já morri, não tenhas dó
Vem tu também morrer ao som do meu uivo!...

Árion

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Carta a um amigo

   Há já muito tempo que não mantínhamos contacto. Apesar de nada te comunicar durante todos estes anos, não significa que toda a minha ideia inicial seria uma fuga a todos aqueles momentos que partilhámos, na cumplicidades das conversas que mantivemos em silêncio nos fugazes efémeros anos em que morámos juntos.
   Vivenciámos experiências que te fizeram evoluir e... Sim... Eu sei... Sempre te considerei melhor que eu e sempre tive o cuidado de to mostrar através de todos aqueles elogios ornamentados entre teias de discussões filosóficas e jogos de palavras e mentais que nos mantinham acordados noites e noites a fio, acompanhadas de desumanas doses de tasqueiro vinho contemporâneo.
   Tu sempre assimilaste tais conversas como vertiginosos pedidos de ajuda e sumariavas todos esse nossos confrontos titânicos numa era em que palavras eram a mais valiosa moeda de troca. Pelo menos no nosso imensurável, compungido, inexorável mundo.
   Esse mundo ermo em que erradicávamos o mundo real expurgando todo o mal 'per se'.
   Existíamos, coexistíamos, num apocalíptico deserto onde nada nos faltava e todas as miragens e quimeras eram um meio eficaz  e benevolente para nunca alcançar um fim.
   Desculpa ter-te abandonado. A culpa nunca foi tua, muito menos minha, foram aquelas ramificações afaníticas, inaudíveis dos medos ilícitos que se tornaram nosso cárcere. Desculpa, Sérgio... Desculpa!...
   O que mais me entristece é o facto de que agora, num falso presente, reside em mim essa ausente força que me levaria a um apaziguador retorno entre duas almas separadas... Perdão, dois pedaços da mesma alma, mas... Não posso!... Não consigo retornar. Por muito que queira no meu imo etéreo, não é possível tão humilde façanha, pois não te reconheço.
   Sei do fundo do meu negro coração que não me reconhecerias tampouco!... Seríamos dois vultos cinza passando lado a lado, ambos na busca do que e de quem nunca encontrarão.
   Um grande abraço, meu prezado amigo e os meus mais sinceros pêsames.

Árion

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Oligodacria

Beatriz, de seu nome
Em prantos perdida
Morre, triste vida!...

Vivo na fome
Imolarei a própria, vem!...
Não haverá mais jogos
De nada servem
As rimas passarão a fogos

A claro d' água
O translúcido de amor e mágoa

Retorno a um vazio
Onde não há tristeza nem alegria
Sinfonia!...
Tombeau fúnebre frio
Oh! Pobre maquia!

Da maquinaria pesada
Alvor sem madrugada

Do amor ao ódio
Em poucos passos
Prazer do ócio
Risonhos pássaros
Emancipados!...
Sêmola de diário pão escasso
Sórdida linha sem traço
Aos monos que enxaguam fados
O fazer! Do que não faço!...

ÁRION

terça-feira, 20 de outubro de 2015

intitulado Alfa

O movimento é cíclico
Consumo-me em meus penares
Engulo-me, esquartejo-me, queimo-me
Privo-me de esgares
Caio vertiginoso num fosso bíblico
Enquanto caio, venho-me!...
Só pensar na plazeroza escuridão
Que me acolhe como demónio
Seu filho pródigo retornado
Desabafo, só, com meu homónimo
O regozijo de um cadáver torturado
O palpitar decadente de um coração
Torpe, negro, sombrio
A morte acaricia-me o rosto frio
Inchado, uma esquelética alva nívea mão
E!... Enquanto me limpa as lágrimas
Secas que vão escorrendo por meu semblante
Sorri tenebrosamente
Expurga-me as máximas
Transfigura-se como um mutante
Ou ilude-me a mente
Liberta-me das dádivas
Das quais nunca fui merecedor
Realidade é uma opção no inferno
Quando um corpo se torna vencedor
Descansando de cansaço num leito eterno!...


Árion

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Olhos cinza

Vendaram-me o regozijo
Numa venda isenta de preço
Pregaram-me, não me vijo
Sofro de dores que não padeço
Passo os dias
Num mundo que desconheço
Sem réstias
Sem modéstias
Sem mestrias!...

Cresce em mim um ímpeto
Um pedido por querelas
Um querer tão perto
Viver por mazelas
É o término do zelo
O fim do poeta
O fim do sê-lo
Só!... Correr sem meta!...

AEDO

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Nequicquam sapit qui sibi non sapit

Obrigado Dante!...
Por guiares mea bea "bella"
Beatriz Portinari
Se descer numa sequela
Depender de um Diabo errante
De licor adocicante
Culpa o "tari",

Lutarei inebriante!...

Até ser necessário
A infernais círculos
Reconquistar o templo percário
De vínculos
Novo ser entre pedúnculos
Tornar-me templário
Seu escudo? Escrúpulos!...

Dar-lhe contos do vigário!...

O que vivo em sonhos?
Que as costas me viras
Merece a dor dos contos
Ser queimado em piras|...
Merecedor do ardor dos monos
Do tempo de Cronos
Seu teatro cantado a poucas liras

Amor!... Fatia-nos às tiras!...


Sérgio Rodrigues

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Cessado Alvoroço

Que se foda a lei!...
E qualquer norma…
Onde é normal ser rei
Da real renal reforma
Tudo é levado pela tórrida corrente
Deste rio frio
De minh’alma intermitente
Ermo rio
Sorrindo engano a dor
Do meu coração aramado a pedra
Não sinto a cor
Sento-me como quem espera
Pela boleia que nunca virá
Vou virando a imagem
De quem já foi o que nada será
E perdeu a viagem
Por não ter como pagá-la!...
A real pêga, pegá-la
Tentei!...
Escorregou-se-me entre vontades
Pequei!...
Por isso só… Esperarei… Por Hades!...



AEDO

terça-feira, 21 de julho de 2015

SOL E D.

Um mar a perder de miragens
A perder de vista
Profanando a própria
Tenuemente tocando a utopia
Uma quase-esquizofrenia de vantagens!...
Invoco-te ametista!...
Preciosa de várias vidas
Salva um pouco a minha
Da violência que me definha
Da decadência que se avizinha
D'anos d'advertências contidas
De caixões... Cof... Cof!... Paixões
Sofridas!...Quimeras, ilusões
Alusões a mundos irreais
Os quais
Me resgataram, em tempos
SÓ me enclausuraram mais
Agora SÓ sinto os doces ventos
Que me tocam a pele maculada
Gerando um turbilhão, um sismo
De emotividade, de dor alada
De abstraccionismo
De recalcado racionalismo
Do comum "nismo"!...
Do meu autismo!...

AEDO

sexta-feira, 17 de julho de 2015

NOVA COM-TRATO-ACÇÃO

A luz reflectida

De um dia solarengo
Em ofuscada visão
Um mostrengo!...
Soberba carótida
Alienando a cabeça, aliviando o coração

Qual cornucópia, alogia!...
Úbere corpo aludindo à pecaminosidade
Em tálamo sem animosidade

Horripilante doce cacofonia!...
A perdição, adição à folia

Emancipados do mundo vero
Montados no mundo fero

Tombados ao fim do dia
Imaginando o ubíquo zero!...

Nívea cútis tez
Orago desprovido de título
Vejo-me como te vejo, à vez!...
Assalto e surripio o capítulo

Mescla marcada per capita
Uma humana dada à rigidez
Surgida, ungida e catita
Amo a tua lividez!...

AEDO

terça-feira, 5 de maio de 2015

Auto-Retracção

É ele, o pobre poeta
Ermo lobo solitário
Rasgado numa página incompleta
Internado num dicionário
Terno auto-docente
Íntegro, lógico, binário
Biológico, "socio-patológico"
Doente!...
Indulgente!...

Amante do mundo mágico
Literado no trágico
Literal no real
E no real, nu!...
Mas nunca despido
Intrépido, decidido
Hein?!... Trepido no pensamento
Sempre, e tanto...
Em-pré... P-R-anto!...
Pranto, PRANTO!...

Vá, é assim!...
O domingo eu não domino
O dominó é dó, é dom, é D. Fim
Porém, é feliz felino
Que adora ser lúdico e gozar
Com tudo o que é torpe, suas numes
Sem nomes, são "Garrettes" dos "fumes"!...
De semblante núbil até à jugular!...

AEDO

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Tintado

Dando uma volta
Ao quarteirão
Senti nostalgia envolta
Em paixão
Naqueles casais apaixonados
Que a gente vê
Tantos floreados ornamentados
O maior cliché
Digno de TV
Sabes bem!... Oh, Musa!...
Nosso amor nunca foi assim
Foi o núcleo da tusa
Sabia a kebab e carmesim
O nosso amor
Era tão diferente
Era do rugir do tambor
De tão sovado, o mais quente!...
Gargalhei tão alto
Ao reler palavras que me escreveste
Tal é a ebriedade em mim presente
Encontro-me tão fora de mim
No presente
Que nem me encontro
No passado ardente
A ausência de choro
Aumenta meu estado animalesco
Masturbar-me-ei a pensar em ti
O mor-decoro
Seroará e será branco de pi
E pintará quente!... E fresco!...

AEDO